terça-feira, 22 de agosto de 2023

Não são nossas incertezas que questionam a sombra e a luz. Também não recebemos uma resposta da vida a cada momento vivido. As respostas somos nós que construímos quando não abrimos mão de nossos sonhos. Sei o que é ser cobrada por mastigar horizontes e mergulhar no desejo de alcançá-lo. É que desejo ardentemente a vida e a Vida é você. Por isso, não sei buscar o equilíbrio. Aspiro tempestades, sou rainha de desastres. É que junto cacos para tecer meus mosaicos e retalhos para desenhar um poema de porta batendo e passos fugindo pelas escadas do céu em busca de uma voz que me peça pra ao seu lado, na janela do tempo profundo, ficar!

 poesia em verdade tem o calor da emoção que não calou no peito,

tem um sol de paixão a 'quarar' os sentidos da vida…"


Que não calou o peito. Que se fez sol de paixão à quarar sentimentos. Como as roupas deitadas nas pedras quentes e molhadas do rio. Se deixam cozinhar em fogo para a translucidez dos fios.  É tênue o espaço que separa dois pares de olhos que se entrelaçam em dor... É tênue o tempo... que passa... é triste o silêncio que o poeta sugere em sua despedida. Há carcalhos entre as folhas que descem a água do rio e se encaixam na malha de fios tecidos sobre as pedras afiadas dessa flor-espinheira...


 Não é um barco a navegar, nem rio. É Mar!. E arrebenta no peito! 


Tudo pulsa forte! Tudo bate compulsiva e absurdamente forte. Não há luz que possa ser lançada quando o sentimento se cala e absorve a escuridão. Não tenho visto as cores da vida dançarem. Não enxergo mais as flores coloridas no parador da eletrola no corredor. Nem ouço mais o vinil rodando a minha melodia preferida. É que pulsa forte a erva de espinheira-santa. É cortante o seu espinho. Folhas afiadas e dilacerantes que me foram entregues no findar do dia. Uma palavra ("foi por isso que a Janaína me deu") e o mundo descambou numa enxurrada de dor, um desastre, um evento cujos danos se perpetuam no tempo... Tudo pulsa forte!

 É que a alma precisa explodir num magma efervescente, numa tragédia muda, espancar os muros com os punhos do coração para que desfaleçam todas as dores e sejam dirimidas todas as decepções e a a crueldade da vida se desfaça em cacos de sangue na calçada... E se misturo tudo nessa centrífuga da alma, se4 cravo os pregos na parede de meus pra dentro para que a dor lateje e lateje e sangre, sangre... e sangre inalcançável dos olhos, do corpo, da alma... Não dedilho afinidades. Não sei mais de teu sofrimento. A paz te alcançou na eternidade. Mas eu continuo aqui, sempre surpreendente em mais um mergulho na dor profunda e lacerante, com as palavras brotando dos poros, sozinhas, em gotas, aos trambolhões, tsunamis afiadas e cortantes... nessa feroz enxurrada que nunca se cala. Continuo dizendo tudo e querendo mais do que palavras...   

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 Querido filho, eu te amo... 

Não tenho palavras para falar da dor que me toma a alma quando teu nome bate forte no meu coração. O peito dói ao viver a tristeza e a dor destes dias. Talvez você nunca irá ler essa carta. Mas eu preciso escrevê-la para que as lágrimas possam desenhar nossa história em minha face e marcar os laivos da dor vivida. Nunca imaginei, sequer pensei que um dia ouviria de meu filho as palavras tão doloridas e fortes que ouvi de você nos últimos tempos. Ainda não sei depurar essa dor. Ela está engasgada em algum lugar e teima em não subir pela tampa do poço em ebulição e dor. É como se o sangue parasse de pulsar em minhas veias, como se a vida perdesse o sentido... e eu não me reconhecesse mais em mim e nem você em você. Eu queria gritar de tanta dor. Eu queria esmurrar o mundo, quebrar todas as vidraças, espalhar os cacos ao chão e caminhar por sobre eles, pés descalços para o sangue jorrasse finalmente e se movimentasse dentro do peito permitindo ao coração pulsar e viver. Eu não encontro palavras. Só sei sentir. Não encontro como expressar o sentimento, como dar visibilidade ao coração ferido. Mas ele está em cada linha, ele está em cada lágrima que escorre abundante pela face. A voz enrouquecida não consegue falar. A mudez destrambelha o peito e a dor pungente quer parar o coração... Não tenho, não encontro palavras para falar da dor...

Que você não sinta essa dor, que você encontre a paz em Deus e que siga teu caminho acreditando em teus sonhos e num caminho de paz para tua alma atribulada pelo medo e a dor da perda de teu amor... De longe te amo meu amor, meu filho amado. De longe eu sempre vou te amar.