quinta-feira, 12 de outubro de 2023

 É como me sinto. Papel desbotado, molhado de lágrimas e pelo descaso e indiferença... Sou a sobra que é colhida quando o fruto do pessegal nega sua seiva. Sem sumo, sou resgate de palavras. Deleita-se a alma com a dor pungente nos rascunhos deste papel desbotado e sujo...

 Me desfaço em sentimentos que não os desenho prá fora daqui...

Não me desfaço em sentimentos. Sou em essência o sentimento. O desenho em mim, tatuado à pele do coração para que almeje o ar, o céu, o firmamento e voe por entre as estrelas como um cometa em fuga de si mesmo, desfazendo-se em luz no céu, num rastro que vai se apagando... apagando... até de si... 

Se minhas palavras te tocam beba-as. Sorva do cálice de remédio ou venenos que fluem de dentro deste coração desvairado, louco por amar e derramar lágrimas por sua ousadia...

Deixa-te levar pelo som da emoção, pela estrela que mora num olhar, pelas palavras ou pelo batuque do peito que percute doce e veloz. É a dádiva da vida que flui no sangue que pulsa e não permite que o coração seja apenas um músculo desativado do corpo. 

Sei que me sentes, sempre soube. Mas calei por não entender o presente da partilha de um coração em dois, quando no meu peito dois habitam juntos somando um. Na matemática da vida inverteu-se a lógica do bater do coração. Hoje a máquina bombeia e controla da carne o pulsar. 

Sempre cometi enganos. Equívocos fizeram meu nascer como estrela num jardim de flores, cardos e espinhos. Mas sempre soube o que trago dentro do peito e também para quem dizer. Sempre disse só a um - como ainda digo -, mas sim, o outro entendeu errado... e quem devia entender, não entendeu, ou entendeu e não aceitou...

Também tenho esse dom de agir impulsivamente. Sou reagente e não creio um dia mudar. Mas não me envergonho de minha tolice. Acato o impulso para escrever o que assim não diria... meus dedos são mais rápidos do que o músculo da minha língua... e conhecem melhor o todo do meu sentimento. 

Sim, doem... e como doem os ouvidos no silêncio de dor... no silêncio tão profundo, gravado na alma, onde só os olhos falam e expelem a tristeza causada... e sim, "tantos loucos e outros ternos sentimentos". 


sábado, 7 de outubro de 2023

 Eu estou aqui, no lugar de sempre, no meu espaço caseiro de amar. Eu também me pergunto onde você está, com quem. Que lábios beija agora, que mãos segura para caminhar e sentir o vento em tua face. E fico imaginando que minha solidão se faz eterna num mundo que é dividido por uma tela de cristal, mesmo sendo ela que nos une. Nossas vidas são separadas. Nosso coração é um só, nossas almas estão ligada permanentemente, eternamente, mas nossos corpos não se encostam, não sentem o calor um do outro, não se encontram no tablado da realidade da vida. Fico imaginando, em meio à dor, outras mãos tocando teu corpo, outros olhos olhando para os teus com desejo, com ternura, com amor... E minha alma chora nunca ter vivido em sua plenitude o amor que há tanto e tanto tempo a habita. Para você pode ser Por Agora a viver o amor incessante, mas em mim já o vivo há trilhões de anos. E nunca o neguei. Sempre o acalentei e entreguei à você, mesmo você não o querendo, não o percebendo, não o reconhecendo, não dando significado ou importância a ele. Esse Por Agora é só teu. Para mim é Desde Sempre, De longa data, ancestralmente... 

Não sei que ventos lhe tocam a face, se o vento das marés e do mar, o vento das montanhas, o vendo de uma janela no alto de uma torre em algum lugar do mundo. Aqui não há vento. Apenas o silêncio de minha casa, a música tocando baixinho e meu coração atribulado de angústias, ansiedades, saudades e perguntas sem respostas sobre este amor virtual, esse amor sem toque, esse amor sem presença, sem tua face para o acariciar de minhas mãos, sem teu corpo quente e perfumado junto ao meu... 

É nestes momentos em que penso em desistir. É nestes momentos em que penso que o tempo que passou é tão longo, tão dolorido e nada mudou... que a esperança de que venha a ser diferente do que é hoje se esvai com a lágrima que escorre farta dos olhos. 


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

 Um silêncio se derrama sobre o cílio dos olhos. Um olhar adormecido de sentimentos por nuances que se desenharam no emaranhado dos dias. É preciso silenciar para tentar compreender o medo de perder, o medo de não ser dona de nada a não ser do tempo que passou. O medo mais profundo é aquele que me veste os pensamentos de que teu amor não é meu, mas de outra mulher e que a mim só a poesia é amada. O medo de nunca tocar você, de nunca ter o beijo sonhado em meus lábios, de nunca sentir teu olhar de amo em minha face, em meus olhos... me dizendo: sou teu! só teu!. É esse medo que me grita para desistir agora para não sofrer mais amanhã.. É esse medo que me diz: Maria, nunca o terás! Ele pertence a outra e já te deixou bem claro isso.  São essas coisas que me passam o peito, que me transpassam e mente, que não tem me deixado falar, que não tem me deixado escrever. 

Eu tive medo de falar com você porque tive medo de ouvir você me dizer que ama a Jana. E eu sei que você não teria brigado comigo como brigou se não fosse isso. E tenho medo que eu precise abandonar tudo, parar de escrever, parar de te ver na telinha, parar com tudo, ir embora pra outro mundo, outro lugar para não sofrer. 

Eu tive medo de falar com você e ouvir você me dizer mais uma vez o que já me disse: não vai ter um relacionamento, minha vida é com a Jana. E então eu ter de tomar a decisão de nunca mais te escrever, nunca mais te ver, nunca mais falar com você, sair de tua vida de todas as formas para não sofrer. 

Meu silêncio, meu estar quieta, sofrendo, chorando, pensando, refletindo é pra ter coragem de tomar essa decisão. 

O meu silêncio é o medo de continuar desse jeito mais 10 anos, mais 20 anos, ou ano nenhum... eu não quero mais isso pra minha vida. Não é mais suficiente depois de tudo, depois de te ver, de te saber ali tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe de meu toque, de minhas mãos. De te saber na torre de meu subsolo e não poder abraçar, beijar, tocar...  É muito dolorido. Muito.  

O meu silêncio é porque sei que preciso tomar uma decisão e preciso ser forte para isso. E não vejo força em mim. Me vejo tão pequena, tão, tão, impotente.