segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Tocas a mim com tua voz de poema. O essencial que vive em ti voa até meu coração qual pássaro em manhã de gorjeio. É quando semeias tuas estrelas em minha alma, quando derramas a tua tinta azul de sentimentos em minha face. Quando o silêncio morre em ti, tua voz ressoa como os sinos nas torres da igrejinha da vila e faz ondas nas águas plácidas do lago da minha alma. Amanheces em meu peito como um ninho sussurrando florestas e os cochichos das fontes e rios que costuram cachoeiras de palavras ao pólen das flores que garlam o vento no ventre das primaveras e no silêncio das sementes que só você sabe cantar. 



domingo, 24 de dezembro de 2023

Talvez seja eu que precise me alimentar de paisagens, de meus próprios passos, montanha abaixo, à caminho do mar... Ser a voz de lírios a cantar pelos vales do sol, guerrilheira, assoviando versos nos barrancos ou nas montanhas ensolaradas do teu amanhecer. Meus dedos de poema plantaram sementes em tua primeira página azul de sentimentos. Era meu céu, sim, sendo tatuado em tua pele, como um minúsculo cometa disparando luzes por onde passou. Deixei pegadas em cada canteiro do jardim. Não havia mistério ou segredos que não desfiei, num rosário sem fim, a cada 9 horas do dia. E minha voz caiu em teu sangue e misturou-se a ti de modo que nossa almas se juntaram para nunca mais se separar. 



sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

 São essas lembranças as mais lindas e as mais doloridas. Quando vemos que podíamos ter aproveitado mais, muito mais do tempo. Podíamos ter vivido mais do que vivemos. O tempo que se falava passou... e a flor caminhou o chão para o céu que sonhou. Sempre houve espera nas horas. Tantas lágrimas que também se distraiam com o vento que soprava luzes na face. O banco no parque, o lago de lona, azul. O cheiro da grama, do café coado... O caminhar por entre a história antiga, os grilhões que prenderam os pés de tantas almas. E era essa alma que falava do tempo que havia para ser perdido... e que devia ser vivido para estar junto, sim, contemplar os cheiros das manhãs, sentir as brisas e seus lumiares no coreto da praça, o peito sempre em chamas, o amor sempre ardendo, o fogo sempre aceso, compartilhado na cumplicidade de duas almas no quotidiano do dia. Hoje aqui, ainda vive a prece nos olhos ao contemplar das montanhas, as linhas da vida nas mãos e o tempo... que ainda há... para caminho dos pés que não emudecem sonhos... 


Saudades tantas. Tanta falta você me faz amiga querida. Tanta falta. Falava com você todos os dias. Que anjos tem hoje a sorte de conviver com você? Que brilhe tua luz na eternidade do tempo e que encontres lá o teu amor querido, para que possam viver o amor que guardaram no peito. 



 Não sei amar sem alardes. O peito grita o sentimento aos sete universos de luzes. É que a alma tem voz e se expressa até pelo olhar. Então não sei amar sem alardes. Esbanjo cores e suas nuances tingem meus lábios para o beijo da vida. É assim que o amor se torna a expressão do divino em nós. Expressa o incomensurável sem limites do sentimento que é o nosso maior mistério e navega aquém das tentativas de descrevê-lo. É o sagrado em Nós... 

 Sempre teremos dias de muitas nuvens. Céus nublados, chuvosos. Aquelas nuvens cinzas que descem pelo ar e caem sobre nós em gotas, como quando os raios de sol nos tocam a pele translúcida de sonhos. É o céu querendo em nós morar. Habitar nossas grietas interiores e escrever poemas nas paredes de nossa alma. Para que possamos sempre olhar a Paisagem com amor e nela mergulhar. 

 E ele segue pela estrada ao sabor do vento. Ao seu lado uma estrela - deusa de sua vida. Que o sol ilumine seu caminho, que a lua lhe entregue o charme da noite para que viva seus dias de felicidade. Eu? Estou sempre aqui. Na janela do tempo profundo, espiando o mundo falar e as palavras calarem fundo em meu peito para justificar a chuva na pele das minhas pétalas aveludadas de vida. E brindo a vida! enquanto escorrem laivos da emoção no cálice do tempo que ainda tenho em minhas mãos...

 Talvez eu seja mesmo sonhadora, romântica, calando a voz no céu da boca, mas deixando arder os sentidos, não podendo calar o sentimento. Em meu dicionário as palavras existem assim, doloridas, pungentes, coloridas, felizes... Eu tentei calar a vida, mas nunca consegui. Ela pulsa em mim, em meus pra dentro como um véu que se estende sobre as florestas encharcando a sede de suas raízes. E a Rosa se foi, suas pétalas tombaram, mas suas sementes galgam o tempo e me falam para não esquecer de brindar a vida, para viver um emocionante tempo, mesmo que seja assim, como sempre vivi... numa nota só...  fazendo valer cada tempo, cada minuto, cada segundo, como se não houvesse um amanhã... 

O silêncio do Vento sopra o tempo para distâncias que tecem um abismo entre o ir e vir das luzes nos olhos. O verde musgo deixa cair a chuva que escorreu em sua pele ardida. Sempre houve partilha e sentimentos porque se ama a qualquer tempo. E o Tempo se faz Sol, se faz a terra da Montanha abraçada pela névoa. Não há como fazer um desenho para as palavras enraizadas no peito. São tão profundas, tão intensas. Por isso, se embolam na garganta, se enrolam como fios no pensamento... tempestade em mar plácido e de águas quentes. Sinto! E para isto que são as palavras. Para serem sentidas. Mesmo que o silêncio do Vento sopre o tempo para distâncias que tecem um abismo entre o ir e vir das luzes nos olhos. Fica o som do silêncio do Vento que soprou... e o sonho de que as luzes voltem nas ondas de tépidas brisas e se faça tempestade em águas quentes de um Mar que navega - eterno - em meus pra dentro.   







segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

E a pequena ave sempre se achou em seus pra dentro. Percebia-se. Conhecia-se. Profundamente. Olhava suas asas miúdas, pequenas, quebradiças, frágeis... Via o céu, sabia-o grande, imenso. Precisava escolher... Assim, assim: nem céu... nem chão... migrou para dentro de si mesma... "bem lá dentro", onde ainda se achava... 


 

E a memória dos sentidos traz um poema "que ainda força um peito". Eu compreendo a tua dor. O quão difícil foi a despedida - sem reservas, intensa. O despedaçar cotidiano do coração. Os ecos dos soluços involuntários. O choro sem lágrimas, para esconder do mundo o sentimento. Chorei por ti no teu silêncio. Desaguei palavras para te expressar. A dor forçando teu peito, fazendo do último abraço - indigente... enterrando-te dentro de si mesma. Nunca houve um adeus que te fez despedir-se dele. Houve um abandono - um deixar ir... "por ser amor e para o amor"... 


 A saudade continua desenhando sonhos minha amiga. Continua costurando universos, ligando mundos e transcendendo o espaço para a vivência do amor. Lá dentro? O mundo é intenso. Os sentimentos se atropelam - sempre sendo o que são, sem juízo, enlouquecidos em seus sentidos, em sua completude. Cada um quer chegar mais rápido ao Destino. Entregar-se, num verso, num poema, numa melodia que vai, cada dia, escrevendo mais um pedacinho da história, rabiscando mais um sentimento no papel em branco, preenchendo as linhas, se atirando nas margens e por elas se embrenhando na busca de explicitarem o todo que navega em meus pra dentro. Já não há mais indiferença do Sol. Já não há mais distância, mas ainda beira a saudade do que mais poderia ser, do que será... 


queria que estivesses aqui. Queria ver tua alegria ao contemplar a minha. Tua felicidade ao ver o meu coração apaixonado tão feliz. 


Já passou aquele vento desatento, o grave abandono, o esquecimento. As preces que contornavam os lábios e dobravam as mãos fechando os olhos foram ouvidas. O vento trouxe a brisa, a força... que agora abrem os olhos e dentro o peito se fazem luz e proteção. Escancaro a liberdade de amar. E acolho as gotas que caem e suprem a necessidade vital de ofertar ao mundo, generosamente, a emoção. A fome dos sentidos continua acesa... fogo inextinguível... que se perpetue na busca dos corações que se amam e se entregam à vivência desse amor! 



sábado, 9 de dezembro de 2023

 Sempre há tanta vida brotando de mim. E as palavras não reconhecem sua grandeza. Viver é essa imensidão que me toma e faz alcançar o céu com a mão. Perceber o fio que nos sustém, a potência condutora e orquestradora da nossa vida é, sem dúvida, uma habilidade que nos é dada pelo tempo. A.dor.meço meus demônios e me deixo conduzir pelo Amor. Não há fórmula para se viver, mas há o aprendizado que me fez ser grata pelo 'simples' poder amar. 



Não me ponho fora de mim, mas me plantei dentro de ti e por isso vivo esse querer ir junto, essa beleza do encontro que nunca se distancia... embora o pensamento me leva à inquietude e às sem respostas das perguntas, um delírio que inquire o tempo e sua passagem. O equívoco não está em "ver a vida passar", mas em deixar a vida passar com os sonhos nas mãos. Sim, há um hoje pra ser vivido, um Agora para se viver. E o Amanhã também. 


 Talvez eu esteja, nesse exato momento, contemplando o ponto cego da minha retina. Aquele espaço-lugar da vida em que você não consegue visualizar mais nada. Você olha e não vê o que a vida lhe mostra, não ouve o que o vento lhe sussurra, não percebe a luz do Sol ou o brilho da Lua ou o caminho dos cometas e o brilho das estrelas. Talvez de tanto buscar a zona que lucida, que apresenta o que a vida tem pra mim eu me perdi na floresta e viva o instante da minha zona de cegueira. Mesmo sabendo que não há luz sem escuridão, nem, como diz o filósofo "não há elucidação sem sem sombra"* me percebo mergulhada num areal em que não consigo compreender e minha mente só pergunta: por quê? Não tenho resposta, nem um eco dela... Ou, talvez tenha e eu esteja, nesse exato momento, contemplando o ponto cego da minha retina.

 Nem sempre é possível frequentar o som que sai de nossa própria alma... Nasce no estopim das emoções e, por meio de gestos ocultos ou não, abre asas e alça voo nos céus que sopram fora de nós... Como sintonizar a frequência, ajustar os controles se o som do coração e a alma já não faz mais parte de mim, mas do mundo? É como o poema a melodia que toca... Ganha o espaço fora de mim e já não é mais meu, é teu, é nosso...



O mundo sempre foi mais sombrio do que a lógica das superações, do movimento e da mudança. Para superar-se é necessário esse movimento dialético constante onde uma força sobrepõe-se à outra ascendendo ao espaço e por ele tecendo um novo tapete para os pés. É quando a caixa vira e tudo se derrama, caos, rumores, apertos... E é no silêncio da poeira dessas horas tardias que o real traz a concretude de todas as aspirações, o novo que cabe dentro da caixa. Desengaveta-se a cor, o peso e o cheiro dos sonhos, as ideias e ideais para que os olhos não passem mais os dias espiando a vida pelas frestas. 


 Quero esse olhar novo, esse olhar desdobrado que vê tudo como se estivesse vendo pela primeira vez. Esse olhar que faz esquecer o que não nos faz bem e descobrir o que nos impulsiona para seguir em frente com esperança e no amor e felicidade acreditar. 

Também quero mãos que me abraçam, olhos que me caibam e um coração faça parte de forma inteira, completa a ponto de se misturarem as vidas e as digitais que nos dão identidade se confundirem numa só. É esse querer de coisas simples... para quando os momentos de escuridão chegarem e as fragilidades se desvelarem eu sempre poder viver a verdade, a esperança que coloca em nosso caminho, em nosso horizonte a felicidade e a certeza de que o caminho para tudo é o Amar!

Quem está dentro está sempre perto, junto. Caminha na beleza desse ser um só, dessa conexão transcendente e profunda. É o sonho acalentado: que todas as distâncias sejam dirimidas, as geográficas e as do coração. Só assim se vive a alegria plena, a felicidade dos sentires em toda sua grandeza e completude. 

Não há como abrandar sentimentos. Eles são. E como são são vividos. Em toda sua força e expressão. Os olhos se olham e, olhando-se, se descobrem em cada sentir experienciado, em cada sentimento que dança livre dentro do peito e transborda pelas beiradas dos olhos, pelos movimentos emudecidos dos lábios e do coração. Habituar-se a se olhar e olhando-se se permitir descobertas é o que nos faz saber mais sobre nós mesmos, sobre quem somos só para nós mesmos, na profundidade de nossa essência, do nosso ser. 

Permitir-se se olhar e olhando-se conseguir visualizar o desconhecido em nós, navegar em ventos contrários - admitindo a existência de nossas profundas contradições, ziguezaguear no indizível - mas que tanto se pede para vir à superfície, surfar nas ondas do tempo desenhando o esboço de novos caminhos para os pés, fazer a releitura do que está escrito nas paredes de nossas cavernas interiores, conferir as anotações nas margens das páginas, as tintas que tingem o que consideramos importante, as nuances de nosso próprio ser - em seus princípios: de identidade e de contradição... É a dialética da vida que a si mesma se faz para conquistar o que diz o filósofo "eu sou e não sou quem eu sou"*.