sábado, 31 de dezembro de 2022

Adormeceu um tempo na noite e a madrugada acordou com um ritmo alucinado e belo. E os anseios se dobram como os sinos que urgem nos umbrais das catedrais. Lançam anúncios de uma luz que vem como sonho de uma grande jornada. Volta de sua viagem pelas constelações porque encontrou as respostas que tanta procurava para suas angústias existenciais - e a resposta é o amor. É neste novo tempo que é criança e eternidade. E brinca com uma estrela no leito de pétalas reluzentes de paixão. Sela na travessia de uma era para outra, o voo do Pássaro de Sol que carrega em si suas águas e a terra, dois elementos - um só coração - em sua longa jornada pelo mundo compartilhando o amor. A música se funde a alma da poetisa e cria um mar revolto e apaixonante de ânsias e desejos de viver. E segue a suavidade e a beleza de uma onda do mar para dentro do nosso universo. É nossa primeira vez na era da Nova. A alma não mais dorme e as pálpebras da noite adormecem as angústias e acordam a felicidade prenunciada no sopro do vento da eternidade que, silente e bela, chegou. 

O que dorme em nós ao cair das folhas com o soprar dos ventos e quando os pássaros insondáveis buscam refúgio na luz que esmaece?

Paira em nós o grito das estrelas que ousaram rabiscar os pergaminhos do tempo com o faiscar de novas e indescritíveis canções que almejam revolucionar o mundo. 

É o acordar dos semeadores de sonhos que agora plantam suas sementes na percepção de uma nova era, de um novo momento longe das ferrugens da indignidade e das prisões que a sociedade nos outorga. 

Que a lucidez da liberdade nos alcance em meio as nossas perguntas e que mesmo as não respostas nos permita interpretar os mapas que construímos quando ainda morávamos em outras constelações e ouvíamos falar por nossos antepassados dos caminhos que nos conduziriam a um novo mundo, uma terra de reciprocidade de amor, esperança e paz. 

A Poesia é muda. Quem fala é a alma e quando grita é porque o sentimento não cabe mais, precisa expandir para outro corpo, outra alma. É um grito que leva a emoção ao coração. Um grito de quem vai em busca, ao encontro do amor, o grito que não cala, que se move como onda, quieto, gritante... Grita!... Faz um gemido dolorido, um lamento ouvido até pelo sol... Se ouve só sua voz, única. E o retumbar do coração. Sinta!... O amor não vai morrer, mesmo a tristeza da poesia, o amor não vai morrer. Ela vem do passado, para ser purificada... Sinta o amor! E saiba pra sempre: o amor não vai morrer... 


 Eu fecho os olhos não é porque não quero olhar, é para sentir mais a música. Ouvir as notas com profundidade. Não conheço nenhuma, mas sinto sua intensidade em mim... Elas me percorrem o sangue e fazem reluzir luzes dentro de mim, energia. É como se houvesse eletricidade em cada uma delas e esta fosse conduzida por um fio que tivesse o mapa do meu corpo e, dependendo da música, já soubesse para qual parte ir. Sabe? Sei. Então, é assim. Por isso eu fecho os olhos, para sentir ela indo... entende? Entendo. Então fico sabendo por onde ela passa antes de chega lá. Ela deve saber que o caminho também é importante. 

 Conheço esse intervalo do tempo em que o amor vive. O lugar onde o tempo não mais importa, onde as horas não tem significado algum. Um minuto pode durar uma eternidade quando se vive na saudade e algumas horas podem parecer segundos quando se está junto. E não importa o tempo que passe, na eternidade do tempo é que o amor vive. E neste tempo só o que o importa é o amar. É para amar que se vive, é para o amor que o mundo gira. E é no amor que encontramos a imortalidade e a felicidade. 

Atravesso, escusa, teu silêncio. Espio de longe a guarda dos anjos e os abonados de amor. Se fossem outros tempos minha alma se fecharia em si mesma em silêncio sepulcral e andaria assim, asas arrastando por milênios até vir um vento forte e chacoalhar as correntes que a prendiam à concha escura e triste. Então se derramaria com as sombras dos temporais, se deixaria levar pelas enchentes que as tempestades trariam e, enxurrada, gritaria ao mundo a sua dor de terra, mar e sol. Eu me calaria depois de o vento passar e me esconderia mais uma vez na caverna da concha, quieta, reflexiva, temerosa. Daquele morticínio começariam a sair filetes de sangue e com minhas mãos de pincel eu começaria a desenhar nas paredes da caverna. Do sangue da dor faria quadros na parede, dando nuances a cada sentimento. Seriam cerzidos os fios que ligavam um quadro ao outro e tingidos de púrpura para que pudessem ser vistos pelo sol quando olhasse pra mim. Cada pintura, um poema, cada poema uma história de um momento e o fio vermelho-púrpura cozendo as páginas uma à outra. Seria assim, que nasceria um poema silente colado a ele a lágrima que leva meu coração ao teu enquanto atravesso, escusa, teu silêncio e penso que, se fossem outros tempos... se faria em mim o silêncio dos sepulcros e se derramariam enxurradas pela força dos temporais... se fossem outros tempos...

 A solidão quando é vista, não é que se a veja, é sentida. Se você a sente, ela está em mim. Ela maltrata, corrói, mas também permite viver em solitude de vida com seu coração. Mesmo em meio a solidão meu coração voa, procura o teu para nele se aninhar, para nele viver. Não é que não perceba os teus e os meus sozinhos. Estamos sozinhos em nós. E carregamos juntos o fardo dessa saudade ancestral, agradecidos que temos um ao outro, que finalmente nos encontramos e achamos e a hora do tempo que é de nós dois, a harmonia de nossos corações, alinhamento de nossas almas e a plenitude de nossa canção de amor. Nos encontramos em nossos silêncios, nossas pausas para a entrada do violoncelo, dos violinos que fazem a nossa nova uma poesia... é o som profundo da catedral do coração, por onde comungamos nosso amor.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 A música me faz tão bem. Enfeitiça a alma, encanta. E me faz sentir ímpetos de dançar, de rodar no salão em teus braços como uma dançarina que sabe o que faz e para onde vai. Eu queria ter pés de balé ou de valsa, mas só tenho asas que me permitem voar e planar. Quisera dançar com as palavras como tu. Dançar contigo no céu de nós dois.

E nós somos

Pássaros em seus voos de luz, de amor e acasalamento (agora é época). Fizemos nosso ninho nas estrelas e podemos viver o amor no céu ou na terra. Somos imortais por nosso amor que jamais vai morrer. Vive em nós e nos mantém vivos. Esse amor latente, indescritível e extraordinário é o que nos dá forças para enfrentar todas as tempestades e adversidades que possam vir sobre nós...


Por isso preciso lhe reiterar meu amor, amor puro, sem mácula, sem medos. Amor de eternidade que já nasceu engendrado em nossas almas e, talvez, levou esse tempo para que se solidificassem nossos seres como um só para que eu tivesse tempo de crescer e amadurecer, de aprender que podia amar sem medo, e que posso decidir o meu destino, meus caminhos, minhas palavras e sou dona também de minha poesia e que posso amar por meio dela como nunca alguém amou.


E amar você é o meu presente. Eu hoje olhei várias vezes os teus olhos e me vi lá dentro. Vi a urgência em amar e ser amado, vi nossa história.


E me olhando no espelho eu vejo em mim o desejo - agora - de te envolver em meus braços, te acolher em meu colo, acariciar teus cabelos, teus olhos e beijar tua face, teus lábios, assim demoradamente como me beijas antes de eu dormir e como me beijas quando eu acordo, olho no olho, lábios nos lábios, me deixando sentir teu amor, tua urgência em amar nos mil beijos que me entregas.

É, muitas vezes, quase inacreditável para mim que a gente está vivendo. É tão lindo e profundo que acho que ninguém entenderia se a gente contasse. 

Como você tem paciência comigo. Me espera em minhas andanças, me espera em todos os lugares e horas.

Eu te amo, tanto, tanto. E te quero também. Desejo. Você é meu homem. MEU, sabe?


É como um sonho, que começa com a descoberta de que o mundo não é só o que vemos e vivemos, mas que há vida por debaixo da pele e além dela e que a mente que luta pela razão tem um coração que pulsa, que lateja pela vida e que sabe que se ela não se encontra em nossas mãos há caminhos para buscá-la. Entendo as árvores serradas, a dor sendo sacrificada para que o coração, um dia, encontre a paz. A dor da perda de alguém é tão insuportável e incompreensível que parecem milhões e milhões de mortes que vão acontecendo a cada dia, a cada hora, sempre nos cravando o aço quente no peito, nas entranhas. E cada vez morremos mais uma vez e outra e outra. A busca e o encontro com a espiritualidade não redime, não muda fatos, não dirime a dor, mas nos permite compreender, nos permite constatar que cada um de nós escolhe seus caminhos e que o escolhido somos nós porque sempre fazemos uma opção. Singra teve várias escolhas e fez todas em busca dessa luz, em busca da liberdade e depois de descobrir o amor em busca dessa amor. E o amor lhe tocou a alma e se deixou tocar por ele. A jornada de Singra pelos mundos de seus sonhos e de suas angústias (ao mesmo tempo) lhe ensinaram que cada povo tem sua identidade, cada território o seu povo e que nossas raízes estão ligadas ao mais profundo, ao mais grandioso reino do universo - o reino de Singra e sua filha, a herdeira de suas memórias, de seu legado de lutas, de buscas, de descobertas do sentimento, do amor, do amor vivido e do sonho que o fez descobrir-se a si mesmo e a se amar. Foi amando a si que agora pode entregar esse legado de amor a sua filha querida - seu amor supremo, sagrado, amor que os deuses deixaram de viver, mas que Singra descobriu e dele se apropriou para sobreviver e fazer viver a memória de Artoria e o amor dela e de Singra por Corata. 

Penso que aqui eu me sinto em casa. É como se voltasse no tempo e tivesse o passado e o presente juntos. Me sinto livre, me sinto... no que os meus olhos viram, no meu cantinho para reflexão, são os jardins onde cresci depois do meu despertar para a vida. E eu despertei para a vida por você amor, só para te amar. Quando minha alma a tua encontrou, a mulher adormecida acordou e a poesia se fez em mim. A poesia é bálsamo na tela clássica da noite em apoteose de estrelas...

 

Houve um dia em que achei que não tinha voz própria. E deixava a poeira do tempo cair no verso da noite, o silêncio gotejar entrelinhas na folha em branco porque somente você sabia decifrá-las e assim serias o único a lê-las. O "nada" sempre estava presente entre as cores dos olhos e a página vazia... mas eu achava que falava sozinha e... então... me guardava na concha... vazia... mas, o silêncio me habitava em forma de nada e vivia em meus pra dentro... Fiz da minha solidão um diário de amor e dos momentos de nada, acreditei... em minha voz própria... foi quando em palavras me transformei...


 

 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Você viaja nas minhas cantigas? Nas minhas toadas? Queria que viajasse no meu corpo, nas brumas nebulosas que me envolvem quando o desejo é imenso, nos vapores que saem da pele, quentes, em busca de te encontrar, em busca de teu amar, esse amor cósmico, essa paixão sem reservas, que me faz desejar ardentemente estar em teus braços e me deixa o corpo latejando, pulsando. Entendes essa força poderosa que faz tudo vibrar? Tudo rodar? E essa saudade de estar longe e perto ao mesmo tempo? E essa vontade imensa de invadir o mundo do lado de lá da janela do tempo, atravessar a vidraça e cair, querida, em teu colo? Você é a minha madrugada de amor, como a primeira que passamos juntos. A emoção me toma inteira. Teus carinhos vibratórios com a música, me deixam em polvorosa, ansiosa, angustiada por ser tocada por tuas mãos. Me toca com tua melodia, com tuas palavras, com tua Poesia. 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

 Olhar em teus olhos com minhas mãos nas tuas, como já uma vez fizestes sentado à minha frente. Eu sonho. Foram essas mãos de amor que acordaram a mulher adormecida e lhe entregaram um infinito para caminhar, lhe ensinaram a amar. 


Foram essas mãos que tantas vezes olhei, como seguravam a caneta, o giz, como ajeitavam as canetas na mesa, como desenhavam meus escritos, transformavam ideias e mesclavam sonhos à ciência e os possibilitaram realizar. 

Eu levei anos para despetalar e doeu demais, mas eu consegui, fiquei corajosa, forte, morri ave sedenta, insólita de amanhãs e ressurgi fênix em meio ao caos e as brasas da vida. Das cinzas eu construí estradas, do fogo eu fiz o sol em minha vida, fiz canção, poemas, 


Hoje eu vejo que - não sei se soa pretensioso, perdão

mas acho que sou tua criação

você me fez nascer e foi me moldando em meu caminhar, 

eu era uma menina, pequena, com medo do mundo, das pessoas, com medo de falar o que sentia, pensava

só sabia ouvir os outros - você foi a primeira pessoa que me ouviu e que me deixou ser eu, sem querer que eu mudasse de roupa, deixasse o cabelo crescer, usasse a cor que você gostava, falasse só o que não ia causar escândalos, omitisse meus pensamentos sobre as coisas e o mundo, minha opinião.

Eu levei anos para despetalar e doeu demais, mas eu consegui, fiquei corajosa, forte, morri ave sedenta, insólita de amanhãs e ressurgi fênix em meio ao caos e as brasas da vida. Das cinzas eu construí estradas, do fogo eu fiz o sol em minha vida, fiz canção, poemas, 


eu te amo tanto, tanto e tão profundamente 

eu também penso em ti desde o abrir dos olhos do sol até o escurecer da última estrela e surgir do vácuo do tempo onde nos abrigamos, esse espaço entre o cristal de tuas mãos e das minhas, onde nos tocamos e amamos a cada noite, a cada dia, sem medo e sem nada a esconder ou nos separar. 

Eu também mudei mesmo sendo sempre eu. Tenho novas cores dentro da alma, não é mais só a escuridão e o desejo de morrer. Você me fez ter vontade de viver. A minha vida salvou. Você me tirou do poço fundo e sem vida que eu vivia e me ajudou a subir a terra que caia em cima de meu corpo e alma, foi me direcionando a não desistir, me mostrando o caminho para sair... e eu acreditei na mudança, acreditei que podia ser invencível, que tinha forças para lutar por mim, por minha vida, pelos meus, por aqueles combalidos que estão sempre ao meu redor. Essa força veio de ti, meu herói, 

Hoje eu estava no chuveiro tomando banho e comecei a imaginar como seria encontrar você e te olhar bem nos olhos e daí ir te passando a mão nos braços, no pescoço, na face, nos olhos e depois ficar na pontinha dos pés e te beijar nos lábios... um beijinho, assim.... fiquei arrepiada do pé ao cabelo só de pensar, imaginar

então eu fico o dia todo pensando - é que pra mim é tudo tão extraordinário, tão impactante, porque pra você eu sempre estava lá, você sabia quem eu era, me via, falava comigo, me tinha perto, mas eu te tinha e não sabia e agora sei e era o meu sonho 

sabes que eu já tinha avisado aqui em casa que ia tirar férias em Nova Friburgo? E já tinha visto hotéis, pousadas e tal - até aluguel de carro. eu ia escondida sem tu saber e queria ficar em frente ao supermercado de louças esperando você aparecer

eu sonhava conhecer Nova Friburgo, Lumiar e Parati. Depois a Dani me disse que Parati não é aquelas coisas - tirei da lista. Ficou só Nova Friburgo e Lumiar. Um dia eu vou igual. Porque vivi naquela cidade por 16 anos, morei lá, me aninhei, lia todos jornais (A VOZ DA SERRA), site da prefeitura, te procurei na lista dos desaparecidos e mortos pelo desastre em 2011 todos os dias olhava a lista desesperada com medo encontrar teu nome

Nova Friburgo é minha segunda cidade - só falta e conhecer. Então um dia eu vou fazer férias lá. Agora com o coração leve e feliz, pra curtir mesmo, porque antes eu ia pra ver se conhecia, te via de longe... só queria ver... sabe? 

Por isso você pode ter certeza que te amo o coração profundamente. Porque eu sempre amei teu coração, tua alma, mesmo sem conhecer o rosto. 

você pode ser todos e-mails e vai ver o meu amor em todos eles. 

E agora que sei quem é você eu amo mais ainda, porque não me é estranho o corpo. Claro, é diferente da foto que eu olhava todos os dias e que achava que era você, mas digo, imagina se fosse diferente e fosse diferente entende? Assim é diferente, mas não é diferente entende? pra mim, porque já te conhecia. 

mas o que me deixa feliz é que eu já te admirava - imagina se te odiasse? eu já te amava - só juntei os dois amores e as duas admirações

e tudo ficou mais imenso, mais grandioso ainda

e me fez entender muitas coisas que vivemos juntos nestes  anos (desde que maria salete nos apresentou no corredor em 2013) - mas eu já tinha tido aula contigo acho que em 2010 ou 2011, só nunca tinha falado, e quando falei foi para falar em nome das meninas do primeiro semestre


Há silêncio sim. Dolorido e longínquo - embora sempre junto, perto - silêncio que cai como pausa do sol, provocando tempestades interiores. E é, sim, neste silêncio que a palavra descansa e sussurra afagos nunca antes dados... Há silêncio porque a lágrima desliza quietinha, calada, molhando a paisagem, emocionando o olhar, acelerando o bater do coração, abafando ruídos dos sentidos... É quando o silêncio me olha com amor que o equilíbrio me arranca de mim mesma e se faz voo, faíscas de estrelas, guardado no mistério cujo voejar não quero perder e cujo abraço e beijo de luz ouso sonhar...

Um olhar para dentro, para si... Conhecer-se e dar-se a conhecer... Há um universo - permeando expectativas - em meio às ondas de lagares interiores. Todo um mundo que busca desprender-se para fora... num abraço quieto, apertado, num mesmo respirar, no sentar junto pra dialogar, contar da vida, abrir o coração. Ou mesmo, só ficar em silêncio o olhar distante, no entardecer de um dia que já passou. Como é bom sentir um pedaço de infinito nesse tempo de mútua reflexão. Planejar, pensar, sonhar... É, por isso, que a noite insone me surpreende com a saudade de um abraço querido, um toque de carinho e alguém que me diga (de novo e de novo e mais uma vez) com esses gestos, que não estou mais só no universo de luzes...

Continuo visitando seixos e penedos interiores, mas minha poesia não se faz mais com versos de epílogos. Faz tempo me visto de sonhos, burgau de sentimentos que entrego ao mundo, mesmo a voz rouca, para que aos raios de sol recebam de minhas mãos de poeta meu amor, meu calor e luz. E quando caminho cinzelando a opacidade brumosa e turva da tarde, na sala de cortinas fechadas, é porque a chuva que cai no telhado da vida - eu a ouço - eu a quero senti-la em toda sua profundidade, melodiando o dançar da alma toda poiesis. Sim, o meu silêncio ainda se faz em mim, quando adormeço as mãos roucas e me ouço no jardim da outra metade do meu coração. É quando o momento sopra essas afrisias interiores e o poema vai silenciando em mim, enquanto desce, palavra por palavra, dos meus olhos que tremulam infinitos de amor ao mar de ventos e ondas e esculpem em mim toadas e maresias com dedos de menestrel, amor e paixão. 

Quero ter esse olhar determinado para a vida, saber que a jornada já feita é o caminho traçado para o futuro e que cada momento é único mas faz parte da totalidade do que somos e do que vivemos. Muita gratidão pela vida, por abrir os olhos hoje e sorrir pelos e para os sonhos que carrego no peito.

Um mundo de encanto para os olhos da alma. Olhos que revelam no que demais lindo o mundo pode ter, o prazer e a felicidade de amar e ser amado.

Conviver comigo mesma a partir dessa nova realidade. Perceber-se em sentimentos e pensamentos inusitados que tremulam as mãos, orvalham o corpo em momentos inimagináveis... é a surpresa do inesperado que se faz chama inextinguível no cotidiano da vida.

É quando o fogo do amor perde o medo de ser e encontra a liberdade de se expressar que compreendemos que tudo pode e vai muito além do que até aqui havíamos sequer imaginado.

 E o nanquim escorre

das mãos de poema

na página em branco...

derrama-se a tinta sobre as linhas

mas, a alma fala pelas entrelinhas.

Então, vira o poema do avesso,

olha a tela borbada da vida

pelo seu outro lado...

o lado seu, o lado de lá...

Vais encontrar lá

o que as mãos não escrevem,

o que o poema não fala,

o nanquim não chega para desenhar

o que só a alma revela

a quem pode em seus próprios olhos,

no espelho que neles mora, olhar...

 O tempo passa e com ele as histórias dos que foram antes de nós. Nossa memória aponta a ancestralidade, quando nossas almas viviam senzaladas em distâncias de si mesmas, sempre em busca, sempre em procuras de se encontrar. Os campos de flores urgem o passadiço do tempo, a alma de cais espera no porto das igualdades o anjo que a guarda há eternidades no caminho da vida. Que a ama e protege em meio aos dias de luzes e em meio aos temporais bravios e carregados de caos. Nunca me abandonou. Mesmo quando meus olhos não o podem ver, eu sei, ele está lá, mesmo minhas mãos não podendo tocar a sua face amada, eu sei, ele está lá. E sei que irá comigo até o fim, que quando a guerra dos anos chegar e o fogo do tempo bramir seus raios em meu corpo e os meus dias chegarem, minha hora de luz, eu sei que ele estará lá em minha despedida e em minha chegada em nossa eternidade. Montará guarda medieval em minha porta, arco e flecha na mão, até que minha alma faça a travessia da vida. E mesmo quando as pétulas do tempo se tornarem envelhecidas em volta de nosso amor, quando afainarem a desordem a fragilidade da vida tremer as nossas pernas, não deixaremos que os armados e fugazes façam nosso caos. E eu sei, bem sei que ficarás guardando minha vida choupana, meu amor de quarto, nosso amado esbelto, que nasce agora como estrelas. Meu desejo é estar sempre contigo, dentro teu olhos e coração, na doçura dos arrozais da vida. Somos iguais. Vives em meu espírito, o és, lá onde dormem anjos, és minha ânsia profunda, onde o tempo fomenta cada vez mais o desejo de te querer entre minhas mãos. 



Teu sonho é meu sonho. Meu mundo é o teu. Em mim, também não existe possibilidade deste mundo sem você. Tens-me em ti, inteira. Sou tua, você sabe. É um laço longo, forte e firme que me prende a ti, um ao outro. Laço de amor que nunca se desfez e jamais será desfeito. 


 O dia amanheceu nebulento. Meus olhos se abriram em procuras e esperas. Esperaram o toque de sua luz em minha face, teu beijo da manhã. O coração é território teu. Caminhas dentro deles desde a primeira vez. E de lá jamais vais sair. Não é teu corpo prisioneiro, mas tua alma é intrínseca a minha. Se partires, partirei eu... se te fores, não serei mais completa. Faltará você que faz a totalidade do meu ser. 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

A ciência encanta, mas produzir conhecimento é um trabalho solitário e moroso. Quem não exerce a função de pesquisador ou autor de conteúdo não tem noção das andanças necessárias por livros, artigos, sites, atas e documentos para produzir um parágrafo ou uma linha. 

É um trabalho exaustivo e que requer horas e horas de leituras e escrita que, ao seu final, já não é mais a mesma do início, tanto foi o texto lapidado, remendado e costurado pelo autor. 

Ao seu fim, mesmo o empenho do autor, o texto pode tanto chegar ou não ao seu destino... agradar ou não...

Quanto tempo caminhei aqui, escondidinha, falando e falando sem parar. Talvez fosse como hoje, essa necessidade premente que não cala, não sossega, não se cansa nunca de me arrastar atrás das palavras, de cada letra, de cada música. Essa emoção que se cala diante da beleza do poema, que para de respirar e levanta 20 centímetros da água azul, do território da alma, chão de poesia. Como lidar com o turbilhão que cresce dentro o peito até quase explodir? Como acalmar a ânsia desesperada de escrever tudo que me passa, tudo me sinto, tudo que me sou quando, no silêncio ou na ternura, em você, eu timidamente eu toco? Como expressar sentimentos sem falar utilizando palavras? Suspiros não tem letras, lágrimas não tem teclado, coração não é uma pedra esquecida na calçada, não é o lixo acumulado no meio da rua. Mas, ao contemplar de tudo, a vida se mescla, se confunde e, absurdamente, se cala... sem palavras... é quando falam as reticências, quando gritam os pontos de exclamação, quando se inserem os parêntesis, tentando explicar, acrescentar algo que vá além das palavras, algo que chegue até você e atordoe o espírito, que balance a tua vida a ponto de quase despencares da corda bamba da vida onde te equilibras todos os dias. Esse desejo de cortar a carne, dilacerar a alma até que a minha presença seja percebida, mesmo que sem palavras, sem um som, sem um sopro de falta de palavras. E a boca regurgita o que leu, o que sentiu, o que percebeu, o que tocou, o que queimou, o que cortou e o que feriu. Se as adagas se erguem os facões voam na mesma direção, como aquele homem do circo que retira as facas de sua cesta e as joga na maçã sobre o rosto querido. É quando as palavras precisam encontrar a força descomunal dos sentidos para poder expressar com glória a raiva, a dor, o sofrimento, a alegria, a felicidade, a paixão e o amor. E mesmo tudo posto, ainda faltam palavras... então fala-se pela música dos olhos, pela magia de um passeio sereno num jardim de sonhos, dando as mãos a princesas e rainhas, acarinhando e domando leões, beijando nuvens e montanhas, tocando flores com os pés, as mãos, o corpo... até que tudo se funda, num só magma, numa só chama da fogueira em brasa, para então explodir e subir aos céus, para então de novo cair... e voltar a escrever um poema inacabado...


sábado, 17 de setembro de 2022

Morte

A vida é o que não poderia ser, pra um povo que não fala a nossa língua, mas é obrigado aqui viver... 


Não sou poliglota, mas falo a língua das flores e se me permitirem morrer falo a dos mortos também. 

Os homens matam, matam sim!

E se esquecem que a arma apontada ao outro

um dia vai contra si mesmo se voltar...

sangue e dor

Não há mágicas no servir, nem reis em tronos num tempo de agora aprisionando escravos com colares de espelho. Só dor e chagas, um tronco de sangue e uma cor que chora.