Tem dias e tem dias. Há dias que os olhos acordam felicidades e há dias que os ombros erguem solidão. Os meus sentidos são sempre o reflexo de meu olhar no espelho. Ecoa a imagem em mim. Um olhar de sorriso, uma mão que não toca, um corpo que aguarda, espera. Se pisar nos cristais vou ferir os pés porque não sei mirar ou caminhar sem ser o desastre que sopra ventos (in)cálidos em tua face. Tenho medo pisar nos cristais e esfarelar tua vida pelo chão.
Não queria ser um desastre. Queria ser teu porto seguro, aquele em que pudesses te agarrar com força e ligeiro se o medo batesse em meio à tempestade ou quando te sentisses um pássaro acuado diante das intempéries da ordem. Ou, quando te sentires caindo num precipício tentando alcançar algum amanhã sem apaches.
Não me sonho mais voos solitários, nem desejo estar assim, esfarelada pelo chão, entre pedras e espinhos. Mas, o poeta diz que carrego muito peso nos ombros. Olho o saco sobre os ombros e imagino o peso a ser carregado, a dor que disso advém. Me agradece por só olhar e por voar. Não há o que agradecer. É mais fácil voar no precipício com peso nos ombros. É um voo solitário, mas todo voo sempre chega a algum lugar. Hoje voei escadas. Pulei degraus com a força e a leveza de quem não carregava esse peso nos ombros. Desci mais rápido do que subi, mesmo os pesos do vazio sobre os ombros. É que o carregava nos olhos. Mas o fui perdendo ao longo do caminho. Descia, cristalino até chegar ao chão e molhar a semente que ali, há tanto tempo, plantei. Olhei o chão ao redor do pequeno caule da flor que luta para sobreviver: vi meus pedaços, molhados, nas frestas das calçadas... Não desisto! Sigo! Não me sonho mais voos solitários, nem desejo estar assim, esfarelada pelo chão, entre as pedras e espinhos e o cimento das calçadas...
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