sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

 Penso que quando dois corações se amam como nos amamos o tempo não existe. Já está zerado, pois, na lógica do amor não tem manhãs, não tem tardes, nem mesmo noite tem. Todas as horas são horas e todos os tempos são tempos. Somos nós que fazemos nosso próprio tempo. Somos senhores das nossas horas e, sendo assim, do nosso tempo. 

No amor, o estar junto é o tempo que conta. Na ida e na volta importa estar dentro, perto, junto. Sem chegadas e sem saídas. Já estamos. Ou o Sol ainda não percebeu que o rumo de seu caminhar já está posto e determinado? É rumo atrevido e parado? Não há paz nesta contradição, porque a ânsia se confunde com a vontade de ficar para sempre e usufruir da paz pós-conflito. A dor de amor agrura os sentidos e não há meias-paredes que escondam seu lacrimejar. 

Também balbucio ao vento em sussurros inaudíveis a dor de minhas ânsias. E, como o poeta, sinto os açoites da vida na mesma medida, amorfada entre os mesmos lençóis. 

Mas não creio que os milagres andem em descrédito, pois é um milagre da vida o existir. O poder que me cabe é de viver o que sou, sem que eu me minta ou a outrem. Igualdade e desigualdade vivem extremos e, nós, muitas vezes, vivemos nas duas pontas. E falo de questões imateriais, quando o espírito se conhece e se faz igual, sendo totalmente diferente. Não haveria outra forma de dois seres que se amam se tornarem em um, somente sendo totalmente iguais para se identificarem e se reconhecerem como sendo parte um do outro e extremamente diferentes para se completarem. 

Nosso reinado não precisa de reis ou de rainhas. Quando se vive para o amor o coração comunga a vida e a felicidade. Por isso, o desejo de fazer o outro sorrir, ser feliz suplanta a própria ânsia da busca de tudo isso para si próprio. 

Não há que ter medo, nem da dor do amor que é amainada pelo próprio viver e existência da procura e da busca de um pelo outro, como não há que ter medo de alheios ou visigodos que possam roubar a marmita de ouro diariamente entregue.

No amor há reciprocidade e confiança e disso o tempo já falou, já revelou ao longo da jornada já feita. Não consigo ver que haja como zerar o tempo. O passado não vai morrer e o futuro é o sonho que o hoje quer viver. O tempo é uma mistura entre o que somos e herdamos da vida e o vamos ser conquistando esse campo de flores sobre os telhados de nosso lar de felicidades, de nosso espaço entre a terra e o céu de nossa linda história de amor. 

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