terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Sou teu jardim de amor e almejo tuas mãos de jardineiro em minhas terras ansiosas pelo regar dessas águas frescas que carregas em teus olhos castanhos de amor. 

E o sonho de ser esse jardim pálido e fresco, de orvalho bem querido, que lhe acresce de pequenas gotas de ser livre borda minhas retinas e meu coração aquietado em teus braços. 

És o amor que me veste a alma,  a luz que me faz fogo e ilumina o caminho para os pés andarilhos de estrelas. És a eterna morada de minha alma, a paz que sobrepuja o medo e as incertezas da vida. 

És o adereço, o longo atavio que enlaça meu corpo e meu coração ao teu e ao nosso céu de amor. 

Os enfeites de feliz de minha alma tem a tua identidade, me adornas a vida, faz de cada momento juntos uma noite de gala, uma festa no jardim de flores que tem seu nome e cuja florescência brota mais forte nosso amor, faz vitória e conquista em nossa terra.

Terra de Sienas, terra de águas frescas e flores enternecidas de paz, onde comungamos nosso amor e a vida que nos faz passagem para a luz e para o compartir de rezas de eternas querências e amor.



 A eternidade não é uma ilusão, não é uma quimera transitória. O amor alcança a imortalidade e faz de nós eternos. Se somos cinzas miseráveis, delas somos fênix e já renascemos no amor que nos veste a alma e nos une. 

Ainda carrego sonhos românticos e disso jamais quero me desfazer. Acreditar no amor, acreditar em sua ancestralidade, em seu caminhar magnânimo pelas ondas do tempo, é o que sempre quero. 

O amor não dorme em terras secas, não é uma quimera absurda, uma utopia de uma juventude perdida ou de um coração que não existe mais. 

O amor, o amor verdadeiro, em suas incógnitas e mistérios, é a plenitude do viver e do sentir, é a essência e a glória de um coração que encontrou sua parte que faltava e mergulha agora no mar da perenidade do ser. 

Muitas vezes busquei acalanto em um mundo de aves. Dobrei o tempo escolhendo caminhos para a paz, o coração mendigando atenção e um olhar de alento. Vivi num mundo de pássaros lampejantes que não tinham olhos para uma flor tão pequena plantada no raso da terra à beira do caminho. 

Hoje sei que somos mar, somos água e sal e é assim que nosso amor se fez indestrutível.

Conquistamos a nós mesmos nesta longa jornada pela vida e nossas águas se movimento em ondas que são como asas de um grande pássaro de luz em seu esplendor de voo. Morremos em nós todos os dias e nosso adormecer nos renasce e vivifica em nosso amor de ontem, nosso amor de longa data. Somos almas meninas e em nossa meninice nossos pés pousam estrelas num céu todo feito pra nós. 




 Olhando as folhas secas pelo chão do campo, o olhar percebe que os sentidos que a alma libera expressam o amor e, desse, seus frutos, se explicitam em ações. É quando se descobre que o cérebro entende a mensagem do coração e o mundo e suas coisas ganham um outro significado. Uma pétala arolando seu canto nas asas do vento, um galho morto na beira da estrada, tudo está imbuído de um simbolismo tão profundo que não se consegue mais viver sem um olhar perto, um olhar denso para o infinito da criação que, sim, transcende a mediocridade em que vive boa parte do mundo. É nesse olhar denso que o coração vê o pássaro no galho, a paz no marulhar da folha ao vento, o anjo que aguarda, mãos estendidas para a caminhada, na beira do caminho que nossos pés trilham no tempo da vida.

 A dor do mundo é tanta que as feridas estão sempre abertas. Sangram a lágrima dos que sofrem sem trégua. São guerras, tragédias, pobreza, fome, miséria e faltam pessoas que com o coração e solidariedade a ajuda oferta. 

Lutar pela bandeira dos oprimidos, olhar com amor a difícil situação de amigos, doar-se às causas que cuidam dos combalidos, eis da vida um propósito, do amor um lenitivo. 




segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Quisera ser essa mulher de encantos, a alma caiada de brandura e doçura no azul dos olhos que sempre te esperaram. Quisera ser meiga e suave como uma tímida flor, ter a força do amor e amenidade do vento quando sopra brisa em teu corpo numa carícia de enlevo. Peço me lapide o espírito em poeiras de ouro, me faça alquimista de sonhos e quisera me cercassem sempre estrelas reluzentes e iluminadas de auroras. Desejo a meiguice aternurada eterna e loquaz e que minha voz soe amenidades em qualquer lugar. Mesmo vivendo mandatos desejo essa força de todo amor e que se espalhe assim, pela terra cultivando canduras e sementes de eternidade. Queria ter esse encanto de presença constante e voluntária e nunca me falte a força e a majestade de uma montanha banhada pelo sol. Queria viver assim, ter júbilo e ser esplendorosa como o amanhecer. E quisera, donaire, surgir entre a névoa e o sol em teu espírito, com a graça e suavidade de um sopro de luz, um lumiar de brisa e fazer de ti um amaino suave e meigo de felicidade e alegria. 


domingo, 29 de janeiro de 2023

Também gosto de admirar a Chuva, de sentir seu cheiro inebriante exalando da terra molhada. Observar as gotas escorrendo pela pele das plantas, orvalhando a flor, suas pétalas de amor. Gosto de sentir a água deslizando suave pela pele, a roupa molhada num abraço de luz. Gosto do vapor de calor que emana da roupa colada ao corpo, posto a urgência do beijo da chuva no corpo quente e as carícias das águas, o toque de pele do céu, dos dedos da chuva nas delicadas e úmidas pétalas da flor. 

Trovões ribombam no ar? Um som distante fere o céu anuviado de cinza-cor. O tempo tem suas escusas, mas somos senhores do tempo e temos liberdade para decidir se queremos morar na tempestade ou se sonhamos a paz e a luz em nossa vida. Não é o tempo que decide sobre nosso olhar, sobre nosso jeito de ser, sobre nosso pensar, sobre as coisas que cabe a nós refletir, deliberar em meio a um processo de tomada de decisão. Ao seu final, cabe a nós a decisão. Deixar de existir ou se deixar viver é uma decisão. Mesmo vivendo o outono de minha vida, minha decisão é por viver e realizar sonhos. E disso não abro mão. Podem ribombar trovões, podem passar tempestades, haja o que houver, venha o que vier, disso não abro mão. 

Queria ter essa lembrança, essa memória dos sentidos, do toque de pele de um amor presente e sempre perto, mas longe do olhar e do toque das mãos, ao mesmo tempo. Talvez seja a isso que o Poeta se refere quando diz que sabe que nenhum sonho pode alcançar sua realidade. Mesmo que os pensamentos mutuamente nos alcancem o toque da solidão faz nossa saudade...

Sempre trouxe o amor protegido dentro o peito. Zelei como a uma joia de imensurável valor. É-me tão preciso e valioso esse sentir inebriado de paixão, esse sentir iluminado de paz. Mesmo nos momentos escuros e doloridos da vida eu acreditei que a Paz e a Luz um dia viriam para iluminar minha alma e abraçar meu coração. 

 Na verdade, na verdade, tudo é difícil de compreender. Principalmente quando a minha compreensão sobre algo não é igual a sua sobre o mesmo tema, objeto, pessoa, lugar, sentimento. Cada um experiencia a vida, o mundo e as coisas do mundo a partir de sua própria realidade, de suas próprias vivencias. Por isso, algo que para um já deveria ter sido compreendido, para outro o processo de compreensão precisa ser mais longo. E ainda tem outra fase que é a da aceitação daquilo que se compreendeu. Foi assim quando me descobri amando com o amor verdadeiro. Até entender, até compreender o que estava acontecendo foi complicado. Descobrir sentimentos também dói, me disse um sábio. Passa-se por diversas fases neste processo de compreender. E após, vem o momento mais difícil: aceitar a descoberta. Feito isso, o brilho da vida se faz, o coração abraça o que se compreendeu, acredita, sonha... 

sábado, 28 de janeiro de 2023

Também quis um violino no telhado, uma voz que tocasse um som que me comovesse, um bordado de vida que me transformasse em pano para embrulhar um coração ferido. E busquei o cheiro que inebria, as lindas mãos que seguram uma metodologia, a santidade que não tenho e as diabruras em poemas que sei fazer. Também sempre sonhei com essa pintura infinita de azul e um Sol em perspectiva sobre a tua cama para amar quando eu quisesse brincar meus enigmas e afinar as cordas de meu violino sobre os lençóis acetinados e quentes. Também quis viver a beleza do mundo e suas coisas, beijar e suspirar enquanto jogamos xadrez, receber em minha taça o sumo da vida enquanto morremos num mote só ao som da valsa do imperador. 



Foi um menestrel do amor, um cavalheiro que cotoviou meu nome em meio ao pó do deserto em que me encontrava e transformou uma folha seca, caída ao chão, numa lua branca e esplendorosa a roçar a montanha com sua luz e seu canto de paixão e amor. 

Foi a verdade do homem embrulhado no seu próprio caos que nos uniu. Um gato no telhado, o desenho na parede ancestral, apontando o caminho para o alto da montanha azul. Foi assim que uma flor dourada se emaranhou na teia que aquela aranha fez e hoje dorme meiga nos braços feitos do Sol. 

 Chamo de raport! Sintonia! É algo como o fino e invisível fio de prata que liga a canção da rádio ao seu ouvinte. A sintonia seria a onda invisível no ar a ligar duas pontas que podem estar tão longínquas que seria praticamente impossível estarem ligadas. Só não o é, porque existe essa onda que faz a sintonia entre dois olhares, entre dois corações, entre duas almas, entre a música tocada na rádio e o seu ouvinte.

Também tenho um sonho azul. Um sonho de girassol de amor. Um girassol que era um homem e um dia desejou: tomare que um dia eu seja um humilde girassol! Um girassol que, com sua vida, canta a vida e o amor e que caminha, atemporal, num jardim encantado, iluminado pela beleza e a pureza do verdadeiro amor. 

 Os nós podem surgir no inesperado das coisas mais simples. E imbrincar tanto a borda do nosso mundo, tornando de um fio, um emaranhado insolúvel e intrincável a nos derrubar. Quantos nós podemos perceber no país, no mundo ao redor, nas vidas de tanta gente, nas almas que caminham ao léu em busca de paz em coisas materiais e induráveis. 

O sentido da vida é o encontro consigo mesmo e com o outro que mora em nós. Ninguém nunca está sozinho. Não caminhamos sós, embora possamos viver em solidão ou solitude de vida. Com certeza, é necessário o outro. O sentido é o outro em nós. 

 

Somos o tudo do Nada! E, portanto, o todo de Nós mesmos!







O amor não se deixa morrer pelas águas das chuvas do dia. Temos dias e dias, e cada momento tem o seu significado. Prevalece o olhar que, sorriso, deu profundidade ao que pairava na superfície da retina. Olha-se não para o raso das águas, mas a alma navega sempre em busca das profundezas. E nelas, nas profundezas do teu olhar, eu me vi, nelas eu me achei. Nesse momento de olhar encontrei a cumplicidade, o amor, a alegria de nosso amor. 



 

Somos flores a carregar espinhos e pétalas que são herança de nossos antepassados. Mas, muitas vezes, também carregamos as dores e as feridas causadas por aqueles que deviam nos proteger delas, nos acalentar de nossos machucados, nos alentar de nossos dissabores e tristezas interiores, comuns à vida e ao cotidiano do dia de tantas crianças, adolescentes e adultos feridos. Quantas mulheres e quantos homens viram crianças e como crianças plainam de dor pelos espinhos da mãe, do pai. E a dor é fenomenal. Consome, corrói, destrói. Viver com a dor, sobreviver a ela é difícil, muito difícil. Por outro lado a dor também é, como forma de sobrevivência, de não morrer, o impulso para viver. Principalmente quando encontramos alento, acalanto, acolhimento nos braços do amor. O amor promove a cura. Não apaga a memória, não apaga a dor, mas nos ajuda a seguir a vida e sobreviver a ela. E nos dá um motivo para viver, para desejar a vida e buscar a felicidade. É com o amor que também aprendemos a amar e a ser amados. É possível! É possível! alguém me disse um dia.




sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Ao longo dos séculos e milênios em que vaguei sozinha pelo céu de constelações e galáxias nunca parei para ver o espinho cravado no peito, nem o sangue a escorrer das veias manchando o chão das estrelas. Não sentia mágoa ou rancor. Nem sentia mais dor. Ela há havia anestesiado meus sentidos. Tinha um único objetivo: desautocentrar! Olhava só para o Sol. Foquei nele os meus olhos. Voava em sua direção. Se os ventos eram fortes, pousava num galho seco, asas fechadas e molhadas e aguardava a tempestade passar. Se o Sol brilhava ou, mesmo se o dia se fizesse enevoado e nublado abria asas e voava. Planava nos ventos calmos e mornos. Amarrado às minhas costas um fio. Preso a ele um envelope. Levava meu coração e desejos se sempre felicidade. Entreguei mil e mais mil e milhões de vezes aquela missiva. Queria só que no abrir do envelope da vida um sorriso se abrisse no olhar do Sol. A sua sempre foi e é a minha felicidade!

Tem dias e tem dias. Há dias que os olhos acordam felicidades e há dias que os ombros erguem solidão. Os meus sentidos são sempre o reflexo de meu olhar no espelho. Ecoa a imagem em mim. Um olhar de sorriso, uma mão que não toca, um corpo que aguarda, espera. Se pisar nos cristais vou ferir os pés porque não sei mirar ou caminhar sem ser o desastre que sopra ventos (in)cálidos em tua face. Tenho medo pisar nos cristais e esfarelar tua vida pelo chão. 

Não queria ser um desastre. Queria ser teu porto seguro, aquele em que pudesses te agarrar com força e ligeiro se o medo batesse em meio à tempestade ou quando te sentisses um pássaro acuado diante das intempéries da ordem. Ou, quando te sentires caindo num precipício tentando alcançar algum amanhã sem apaches.

Não me sonho mais voos solitários, nem desejo estar assim, esfarelada pelo chão, entre pedras e espinhos. Mas, o poeta diz que carrego muito peso nos ombros. Olho o saco sobre os ombros e imagino o peso a ser carregado, a dor que disso advém. Me agradece por só olhar e por voar. Não há o que agradecer. É mais fácil voar no precipício com peso nos ombros. É um voo solitário, mas todo voo sempre chega a algum lugar. Hoje voei escadas. Pulei degraus com a força e a leveza de quem não carregava esse peso nos ombros. Desci mais rápido do que subi, mesmo os pesos do vazio sobre os ombros. É que o carregava nos olhos. Mas o fui perdendo ao longo do caminho. Descia, cristalino até chegar ao chão e molhar a semente que ali, há tanto tempo, plantei. Olhei o chão ao redor do pequeno caule da flor que luta para sobreviver: vi meus pedaços, molhados, nas frestas das calçadas... Não desisto! Sigo! Não me sonho mais voos solitários, nem desejo estar assim, esfarelada pelo chão, entre as pedras e espinhos e o cimento das calçadas...


Também vou depressa antes que a carroça do tempo me pegue e me leve para os confins de um mundo que não tem mais volta. Antes que me leve para longe da luz que me ouso sonhar. Mas vou de passo lento e fundo a espera do vento que me apegue porque ele traz notícias e o sopro do calor do Sol sobre minha pele esbranquiçada de poeiras milenares de um guardado do tempo. Também vivo a criança que sou, de pernas curtas, com passos em busca da encruzilhada bifurcada do caminho em que nossas trilhas se juntam e seguem nova jornada em direção ao céu de nós dois. Todos os dias lá te espero com os olhos atentos e a boca aguardando os lampejos de luzes e calor que me entregam teu coração e o imenso amor com que me ensinaste a amar e que me tirou do caminho da morte e semeou em mim o desejo intenso e a ânsia eterna, a gana de viver. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Quando as pontas do elo se encontram e o círculo de ouro se fecha o vento frio e gélido e as dores das ausências não mais se fazem sentir. Porque quando um elo se fecha as veredas da vida se tornam uma só dentro daquele limite, daquela fronteira entre o tempo que não era e o tempo que ainda não é. Significa que o tempo presente é o tempo de viver a plenitude deste encontro cósmico entre uma ponta e a outra do elo. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

 Almas-irmãs se procuram incessante e desesperadamente quando a vida as coloca longe uma da outra. A insana procura se transforma e. Insana paixão quando do reencontro. E o amor faz o elo para que ambas, numa só, possam viver a eternidade do sonho e do reencontro.

 Sentir amor é sagrado, posto que o amor não segue a lógica do mundo e suas coisas. Poder sentir esse maravilhoso, saber-se amando, ser presenteado pelo universo com a nobreza, a beleza e a profundidade de um sentimento é algo indescritível. Não há palavras para definir, só sentir!

 Quando a poeira é retirada de sobre algo, muitos tesouros são encontrados. Lembro as estátuas que ficam milênios escondidas sob as areias e poeiras e um dia o vento sopra e o que estava escondido vem à tona. É linda a descoberta, é fenomenal o encontro. É um tesouro a ser guardado com mãos de amor e cuidado. 

 O brilho encantado das lágrimas enchem de brandura o coração. E o rio ganha vida e a terra sedenta também. É a reciprocidade e a mutualidade do viver a dois num mundo que prima pelo individualismo. A terra e a água nos ensinam a interdependência de viver. Um não vive sem o outro. A terra se transforma em deserto sem água e a água se perde no espaço sem a terra para a reunir em rio, lago ou mar.

 Se há lágrima, há sal, se há sal há um diferencial que tanto pode ser o tempero da vida, como o remédio para a cura da alma. Muitas vezes é no silêncio entardecido que nos encontramos a nós mesmos. E se nos encontramos é porque o silêncio chegou no tempo certo. Entregar-se ao silêncio, abrir o riso em seus braços, arder na brandura da morte é compreender que planos são sim infinitos quando podem ser construídos e mudados todos os dias. Nada é estático na vida. Nada é definitivo, nem a própria vida. Mas se há amor, se há paixão em viver, se há desejos (mesmo os mais secretos e invisíveis aos olhos ao redor), se há ânsias, o infinito se faz morada e o mundo ganha novas matizes para o viver. É quando o sonho se torna infinito e eternidade para o voejar de pés e asas ardentes de vida e luz...

 O tempo deixa uma saudade surfando no ar. Uma saudade longínqua, que já caminha universos, que açoita a alma e dobra as horas das esperas, dobra o tempo do realizar do sonho, do desejo daquele abraço, daquele beijo, daquele momento de só recostar no ombro e deixar o vago do tempo passar em contemplação e adoração do ser amado

O silêncio nos deixa perceber a vida em toda sua beleza e profundidade. No silêncio os sons inaudíveis se fazem ouvir, o avesso da alma vem à tona, a compreensão do que parece incompreensível se faz tecer. Mergulhar no silêncio de si mesmo é se encontrar consigo mesmo num abraço querido, num instante de sublimação e felicidade interior.

Quantos de nós, cosmopolitas de ser, não andamos em caminhos duvidosos, muito duvidosos pelas ruas e vielas do tempo? Quem já não foi dono de quatro flores sedentas de amor, carinho e joias de enfeitar? Que jogue a primeira folha de lantejoula quem ainda não se perdeu nas dunas de Afrodite ou não foi ferido por um espinho de uma rosa ou um cactus do dito amor. O jeito é fazer roçado de fazenda pra arregimentar mãos de trigo e pão ou vender palitos e remexer colheres nas terras da Dona Mariazinha e do Seu Bastião!

Isso é porque o tal do Bastião não tem jeito. Vive enrolado numa saia ou lantejoula por aí. Diz que vive sozinho, até sem carro, "ando a pé", me diz. Mentira! Tem até carro ano e finge que não consegue nem mais ir na padaria comprar o pão para o café da manhã tomar. Que nada! Enquanto Mariazinha acredita nas lorotas do Bastião ele só quer saber de na rua zoar. Anda com quatro mulheres e nem fica vermelho em admitir. Diz que são mulheres de amor, carinho, mas reconhece que querem joias e não vivem sem um tostão do Bastião. Ah! O moço ainda fica triste que perdeu as madames. Contou que se achava dono das quatro, mas descobriu-se ele adonado por elas que lhe mandavam e ainda lhe davam um montão de carinho, mas transformaram a vida do Bastião num inferno de dívidas e prestações. Perdeu a fortuna o coitado. Ficou pobre, desamparado. Foi atrás do amor das Afrodites e caiu nas dunas de um golpe fenomenal. Perdeu as mulheres, as lantejoulas e as saias voaram pra outros colos. Ficou pobre e sozinho o Bastião. Mas o homem é esperto. Sem um tostão rumou pra Vila dos Vinténs ao encontro da Mariazinha, a mulher que faz o pão pra padaria para o café do Bastião. Lá, ganhar um pedacinho de pão e marmita na bodega do Seu Rui, Bastião faz roçado de fazenda e ainda rinha com a mulher dizendo: agora sou peão de roçado, e ainda sofro sem carinho, sem beijo, sem saia ou abraço apertado, mas sou feliz porque vendo meus palitos e remexo as colheres da Mariazinha e cosmopolita já fui!

 A complexidade do amor é que faz a sua simplicidade. É simples como um vento que faz brisa num céu de luzes e estrelas e complexo como o caminho das galáxias e o caminhar do tempo de um lado ao outro de nossa ampulheta do tempo. É simples amar e complicado ao mesmo tempo. Partilhar um mesmo coração e bater em uníssono o toque da vida é o extraordinário do amor que a si mesmo se faz e se acolhe nos corações que nasceram pra Só se amar. 



Todos temos escadas, sopés e sombras nos olhos. Somos montanhas do amor. Os teus segredos são os mesmos meus. Somos nós que nos encontramos nos copos de cristais para celebrar a vida, nos tonéis de vinhos envelhecidos cujo valor imensurável já foi pago pela vida que nos fez vagar em viagens de idas em busca de nós mesmos, de nossa outra metade de Ser!

Caminho pelas ruas onde nasceu o Sol. Trilho paralelepípedos que seus pés tocaram em um tempo que não conheci. Sou sopro de luz por entre os telhados e eirados que fazem o colorido da hora vivida. Meus olhos percorrem as portas e janelas fechadas, as horas caladas, os braços iluminados da hora do dia num céu algodoado e feliz. Sou calçada de esperança e acendedora de candeeiros quando as luzes se calam e a noite avança pelos umbrais. Mãos dadas com o Sol, caminho a memória de um tempo que não se esquece, que tem histórias de vida, tem um automóvel do tempo e mãos de sonhos dos pés que seguiram viagem através do tempo pela rua dos confins em direção ao horizonte de possibilidades que se vê na linha entre a copa das árvores e o céu, morada desse Sol de amor. 

Somos aves argutas. Erguemos nossas asas por sobre os montes, astros e estrelas do céu e fizemos nossos voos em busca do infinito alado. Seguimos em busca da terra pura, ao encontro de águas frescas e alimento para nossas almas canoras. Cruzamos as pontas de nossas asas no espaço sideral e construímos pomares de sol e lua de amar. Somos aves argutas e compartilhamos nosso aprendizado de viver em amor e reciprocidade com as estrelas e planetas que encontramos em nosso caminho de luz. 

Nem sempre é possível entender os caminhos da vida. Nem sempre é possível compreender as escolhas do outro. Mal conseguimos compreender os nossos pra dentro, as trilhas de sombras e luzes, os cantos escuros e calados ou os espaços gritantes de nosso mosaico interior. Nesta jornada em busca de nós mesmos só podemos mesmo saber de nós. Perder o que não se tinha também causa dor. E a dor da perda é fenomenal. Ela anestesia os sentidos e nos faz vagar de um lado a outro de nós mesmos perdidos, aniquilados, a alma em extremo desespero e sofrimento atroz. É quando somos massacrados pelo que não queremos, não desejamos, mas somos outorgados a enfrentar. Desejo que se desenrole da dor, que se saiba muito amado e adorado e que, haja o que houver, venha o que vier, esse amor sempre, sempre ao seu lado estará e será teu o meu coração. 

 Sou flor que chora ao ser tocada. É quando os olhos deixam escorrer a emoção e o amor se torna brandura e acalento. Quantas vezes as águas teceram sulcos profundos na face que receberam o alento das tuas palavras, a força dos teus braços feitos. Quando as lágrimas plantam rios e cursos d'água pela face tímida tua mão acolhe a minha para continuar nossa caminhada. Por isso, nosso amor é brando de lágrimas. Porque se eu choro é você que chora, se minha face brilha o riso é tua boca que me surpreende com a brandura nos olhos e o sorriso nos lábios de amor. Um pouco de ti, sou eu, um pouco de ti, faz um pedaço de mim e se choro você é parte das minhas lágrimas, se grito, és parte da minha dor, porque teu coração se aloja no meu e somos parte um do outro, meu querido amor. 

 É minha prece que os tempos de ódio e dor se calem. Que as mil vozes que amedrontam e destroem cessem seu alarido e a paz chegue para o viver já sofrido e carregado de falsas glórias. É minha prece que a tocha da justiça e da igualdade social surja de onde se encontra, venha e perdure em nosso tempo chamuscado de incertezas e medos. Que venham tempos de paz e solidariedade e que os povos entoem cantos de mil vozes em celebração!

Sou como esse jardim de ouro. Tenho paredes e luzes brilhantes que refulgem minha vida por meio de apenas um olhar. As paredes são para manter dentro do coração a semente de amor que ali nasceu, as luzes são para iluminar meu jardim para que essas sementes possam ir e vir garlando o vento em suas semeaduras no tempo do tempo. Sei que o caos mora nele e para isso também são as luzes, para o iluminar e não o manter no escondido. Assim, a árvore nascida não será enganada, nem se sentirá nascida no jardim errado. Tenho nas mãos o poder de cuidar desse jardim, de adubá-lo, ama-lo e dele fazer florir belezas para que resplanda alegria e felicidade aos caminhantes e ao Sol que o aquece e abraça em amor. Deixei portas e janelas e das chaves as coloquei nas mãos do Sol para que possa entrar livremente e dele morada de milagre fazer. No tempo da poda, visto o uniforme de jardineira e sei que assusto com o corte que eu mesma recebo. Somos todos flores de um jardim, um dia sementes, noutro flores, noutro voltamos ao início, ao princípio do viver no silêncio das brotaduras, no silêncio das sementes... É o nosso navegar no tempo e no espaço da eternidade da vida... 

 A vida é um instante vivido numa eternidade de tempo. Num abrir e fechar de olhos do tempo surgimos no mundo e num abrir e fechar de olhos do tempo vamos dele partir. Tudo é fácil de perder ou de ganhar, mas ao mesmo tempo tudo é difícil de perder e de ganhar.  Parece contraditório ou equiparado. No entanto, não o é. Uma estrada, uma mulher, balões coloridos... que não os teve? Sou uma mulher e nem sempre tive uma estrada que pudesse chamar de minha ou balões levar e colorir o caminho no entardecer ou solar do meu outono do dia. Se tens uma estrada, uma mulher e balões coloridos enfeitando o caminho, siga com graça e leveza os dias que te cabem viver. Não estar só no caminho e poder enfeitá-lo de belezas e cores é um presente lindo do universo. Viva cada dia como fosse o último porque a vida é um instante numa eternidade de tempo. Hoje estamos aqui, amanhã um de nós pode não estar mais... 

Quisera ser essa Flor-Mulher que encanta os olhos e o coração do amor. Esses lábios que ao beijarem as pétalas suaves e aveludadas se misturam em frescor e beleza na manhã do poeta e fazem da mulher, Flor!

domingo, 22 de janeiro de 2023

Tudo morre e passa. A própria vida é feita da efemeridade do tempo. O que nos faz eternos é esse no outro habitar. Fazer parte do elo. Este, que nos une e nos faz ser um. O elo mais perfeito e elementar, moldado na Solidão do Ser. Ser um, ser Nós, ser Amor! É quando descobrimos a eternidade em meio a efemeridade do tempo que não está em nossas mãos, mas ao qual pertencemos. É descobrir a vida dentro da vida e que há mais vida dentro e depois da morte. Vivamos o um que somos! E que seja para construir, juntos, a felicidade de Ser e Viver!

Somos donos de nós mesmos. Nosso espírito é parte de quem somos, é o soprar da vida que nos envolve e nos faz protagonistas de nossa própria história. Somos um, somos pássaro que voa e não teme os ventos tempestuosos e as avalanches que possam vir a nos derrubar. Não há quem possa tocar em nosso espírito e dele se adonar. A pertença é nossa! Somos dois em um! Somos donos de nós mesmos!

Que nunca nos falte o sumo do nosso amor, a doce sentimento de pertença, de identidade entre o meu e o teu coração. Que a felicidade se faça a cada dia e que a compreensão desse sentir, desse amor eternizado no universo de nossas vidas e de nosso tempo se perpetue em nosso caminhar juntos. 

Te abraço: me abraça! Te beijo: me beija! Me acolhe, querida, no círculo fechado de teus braços feitos. Sou mel da colheita, sou resma de palavras, meigas e singelas, que te entregam amor, no desejo de fazer tua vida o sumo de nosso amor!

É descoberta do século e a descoberta de nós mesmos, quem somos, quem queremos ser quando conseguimos aprender que a vida não é somente o instante que vivemos. Mas, que este instante, o agora, é o intervalo único entre o passado que nos foi concedido viver e herdar de nossos ancestrais e o futuro que se desenha à nossa frente que não termina na morte. Por isso, a felicidade me toma o peito porque esse aprendizado de que há vida dentro da vida e mais vida depois da morte, é alcançar a eternidade do sentir,  pensar e do viver. É alcançar a plenitude da vida e do amor. É quando conseguimos antever que o que nos mantém neste traçado transcendental e inexplicável é o extraordinário da vida que a si mesma se faz no coração do espaço e do tempo. 

Meus dedos de modernidade exalam gratidão pelo teclar da vida no pergaminho do tempo. Mergulhar na tela que se desenrola diante dos olhos, contemplar as belezas que o universo entrega na janela do dia, é parte da imensa descoberta da vida, do amor, da poesia e da poeta que sou. 


Que sejam sempre mãos de amor a conduzir os dias, as letras, as palavras, a vida da mulher que ama, da mulher que é ser de amor. Que o amor que reveste o coração espraia sua luz ao mundo que pulsa vida ao redor e que a paz que emana desse amor alcance sempre o coração a que se destina, a alma a qual, inteiro, pertence. 




sábado, 21 de janeiro de 2023

 Um jardim de paz de amor é o sonho do coração da mulher. A paz que só se conquista quando se compreende a profundidade dos recônditos da alma. De nossa própria alma. Quando compreendemos que o que recebemos do universo é herança de amor de nossas almas ancestrais e que fugir não há, mas aceitar e zelar pelo tesouro herdado: o amor de alma, o amor verdadeiro. Compreender isso nos traz a paz do amor e o amor é o que suplanta em nós o ardor da vida, a paixão e a felicidade de conhecer o amor verdadeiro, amar e ser amado. É a nossa glória! É a nossa pactuação com a vida! É a nossa felicidade vivida na solidão de dois corações num só. 

O abraço está num olhar, num gesto de carinho, como estar junto em todo e qualquer momento - que explicita o profundo amor, o amor verdadeiro! O abraço da vida de laço é estar nos braços na hora do choro, na hora da dor, da tristeza, da saudade. O abraço é a ternura do sorrir, a meiguice de olhar as coisas do outro, o mundo do outro, nos olhos do outro e enviar lampejos de luzes, beijos iluminados que pairam na boca que fala amor na poesia que nunca se cala. O abraço está no verso solto, nas entrelinhas longas, naquele reticência que sempre surge quando faltam palavras, nas exclamações ao final do poema que expressam o desejo de dizer mais e não encontrar arengas que possam dizer da intensidade do sentir e do pensar. O abraço está na alma, poiesis em flor. 


É que ainda vivemos as incógnitas da vida que é feita do contraditório do tempo e das coisas. Renascemos a cada avançar no tempo, porque o abrir dos olhos no nascer de um novo dia passa pelo morrer do ontem, pelo fechar dos olhos ao fim do dia enquanto as horas passam e nos jogam lá pra frente. Esse adormecer de horas é a passagem de um tempo para outro. Do passado que já morreu, para o presente sendo vivido. É a mágica da vida que nos permite caminhar no tempo e fazer a travessia do tempo num fechar e abrir de olhos. 

 

 Ela ajeita as flores no jardim como se lhe pertencessem ou fizessem parte de seu próprio corpo. Não sei quem, na foto, transmite mais beleza. Se as flores que vestem o muro descascado com sua cor de céu ou a mulher que, com mãos de fada, compõe um poema de flores no teu jardim. Mas, penso, que a beleza está no coração do poeta, que viu encanto no todo da imagem e a colheu para plantar em seu jardim de amor. 

Ouço o comungar silencioso do amor, que avança suave e inaudível em nosso espaço de sentir e ser. Que toca leve e delicadamente a pele com o sopro meigo e querido de uma canção de amor. 



 Também já aprendi muito com o silêncio, a comungar da sabedoria da solidão. Principalmente a me ouvir na ausência de voz e dialogar comigo mesma em minha interna amplidão. Tantas vezes chorei com ele e as lágrimas escorreram quietas, caladas, sem som. Como se soubessem que os barulhos causariam estrondos que assustariam o coração. 



quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

 Eu também tenho medo de ter medo, mas aprendi que o medo me faz andar com segurança os caminhos que escolhi, porque antes de caminhar já verifiquei se o trilhar é possível. Certa vez, com um grupo, subi uma montanha. Não foi fácil, dados os empecilhos, a terra molhada. Eu não conhecia o caminho e segui os demais que o conheciam e sabiam ler as placas que apontavam a direção. Chegamos a um local que me assustou. Eram pedras enormes e um abismo. Todos foram passando e eu e mais uma pessoa, com medo, ficamos olhando. Todos já estavam do lado de lá e nós ainda do lado de cá, olhando para o abismo. Por fim, nós duas desistimos. 

Optamos não atravessar o abismo por cima das pedras e de um tronco que ligava ambos os lados. O grupo seguiu o caminho e nós ficamos lá. Iniciamos a descida. Descemos correndo a maior parte do caminho. Aos chegar aos pés da montanha, procuramos água em vizinhos e, após, empreendemos o retorno às nossas casas. 

Quando o grupo retornou vi as fotos e eu não estava lá. Descobri que só faltavam 100 metros para o pico, o cume. É a minha maior frustração não ter conseguido ir até o final por mais difícil que fosse o caminho. 

O medo de cair no abismo me fez desistir. Hoje tenho a impressão que a pessoa que ficou comigo para trás só ficou por solidariedade, para que eu não ficasse sozinha e tivesse companhia em minha descida.

 Quando penso que eu poderia ter visto também as montanhas ao redor, de que eu poderia ter olhado por cima das nuvens, da névoa e não o fiz por medo... É triste não me ver lá no alto com os demais. 

Tínhamos o mesmo propósito, mas eu desisti por medo. E estava tão perto, tão, tão próxima do ponto final, o cimo da montanha. 

Então, tenho medo de ter medo, pois sei que o medo paralisa, faz retroceder tudo que já se andou, faz desistir. 

Mas aprendi também, que se há a possibilidade de ter medo eu posso verificar o caminho e descobrir qual é mais seguro ou como atravessar um abismo com segurança. Se tivesse pedido ajuda alguém me ajudaria a atravessar... mas não o fiz. 

Desisti. 

Nunca desista dos teus sonhos !

 as noites vão para o coração e ficam lá com os sonhos que se avivam a cada amanhecer.

Libertar-se das prisões interiores começa com uma decisão, um querer, um desejo, uma busca. Dela, o caminho que se faz já é a liberdade adquirida, mínima, suave caminhar da alma em busca de si, de redescobrir-se na liberdade de ser.

No amor vive-se além do tempo. O amor é atemporal. Não tem datas, nem olha-se o ponteiro das horas ou as folhinhas do calendário na parede. Pode ser nove horas ou meia-noite, o amor é vivido, é o tempo do agora, do momento em que se está. Por isso, não olhe a ampulheta do tempo que desliza lépida a areia para o lado debaixo de sua existência. Olha para o que somos, viva o estamos e sonha com o que não foi ainda. O tempo é agora, a eternidade é o instante em que nos olhos e corações se cruzam em nosso espaço, em nossa morada de amor, em nosso lar interior. 

 Demo de demônios você quer dizer... Já nos transformamos nisso há muito tempo. Talvez possamos mudar ou... piorar... ou continuar democraciando

Me dê um jardim para morar e viro flor só para te encantar. Me plante flor em tuas terras, me faz ser tua rosa. Faz do jardim minha vivenda, território da rosa e a rosa passa a ser o teu jardim, orvalhado de amor e paixão. Jardim de encantos, onde o homem vive tempestades, mas também enternece seu coração e encontra o sono da paz e felicidade de amar e ser amado. 

Sempre fui seu jardim de flores. Desde a primeira visita. Entrei pela porta entreaberta e me instalei na cadeira de vime do hal. Dali, recostada em teus braços de amor, discorria luzes para todos os cantos da vida. Com cada sussurro voejava meu amor, anelado de ternuras, canelado de doçuras e especiarias diversas que lhe concediam o tempero adequado à cada canção que soava pelos ares da montanha proferidas por um velho carpinteiro de palavras, montanhês de cajados de paz e beleza de ser e viver. Sou flor de um jardim que floresce regado com o riso e a lágrima de um jardineiro sábio e feliz. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Somos botões de luzes. Somos flores que nasceram num mesmo arrebol, almas-gêmeas, a caminhar tão longo percurso em busca de se encontrar. Nosso tempo não é o tempo do mundo, nossa hora não é a hora desse mundo. Vivemos num espaço do tempo que chamam eternidade. Somos parte um do outro, somos um. Somos a pedra e a gema, o fosco e o lapidado de um mesmo momento de criação. Se nos compreendermos assim, cada um com seu claro e seu escuro, cada um com seu brilho de sol e sua sombra de paz, cada um com seu áspero e sua leveza, não há razão para conflitos, pois duas metades iguais se completam. O amor é a nossa razão de vida, de ser e existir. Somos flores, cravos e amapoulas do amor. E é o amor a nossa essência, é o que nos dá beleza, é o espírito de Ser das Flores. 

Que nunca te falte o sumo do nosso amor. Que esse mel te seja sempre presente e que mergulhes nesse sabor nacarado os dedos do teu coração, para que sejas revestido pelo adocicado de sua luz. E que a cada dia tua vida de esperas receba o toque doce e quente do extraordinário desse sentimento, a paixão excelsa, a seiva pura do amor. 

Também quero ser o pó dos aguadados, um cometa amigo das estrelas. Não mais ser eu. Quero, hoje, ser você, para que os reis próximos não me joguem mais às feras. 

Se és forma e barro e te enroscas em meus abismos, em meus canyons profundos, ouso moldar-te com minhas mãos, beijar tua força. ser abraço e alento ao redor de teu castelo de luz, até que floresças tuas cores em ameixas endeusadas de amor. 

Busco um amaciador de pássaros, que caminhe em minhas ruas de avenidas empoeiradas, que seja passageiro de minhas ânsias e que, mesmo a efemeridade da vida, se faça luz em minha alma, rosque e se enrosque em meus pra dentro e me entregue nuances do que seja o paraíso, agasalho de amor e vida em seus braços. 

Também me aflijo com a calçada dos solitários, a calçada das dores cheia de vãos que, muitas vezes, tentam nos prender os pés. Mas, vivo rodeada de braços estendidos que batem à porta e se me lanço em sua direção é porque também me encontro entre os que vivem em ânsias profundas de um abraço querido, de um acalentar desmedido, E se me dizes que encontrou a morada dos tristes e sozinhos, encontrou a mim que lá vivo que lá me perdi e me achei onde nunca tinha ido.

Se todo fim sempre espelha uma flor ou a outro início, creio não existir um fim para o princípio. Não há como todo princípio estar ligado a um fim de si mesmo se esse fim espelha uma flor, um novo início ou outra flor. Vejo a continuidade nesse imbróglio que nasce aos pés de uma flor que simboliza a pureza espiritual, a pureza do corpo e da mente, a promessa da elevação espiritual. Penso que o princípio do fim é o triunfo do espírito, a descoberta ou a redescoberta dos sentidos, a busca da sabedoria e do conhecimento que nunca se finda, que sempre é um início sagrado, íntimo, pessoal - mas não-individual - porque o conhecimento só cumpre sua função quando compartilhado. Não apaga o passado, mas permite um renascer, um começar de novo diante de um horizonte de possibilidades... 



Sou Chamego do Nada, o nada que se doa por inteiro, que Olha nos Olhos e se faz Só Coração. Sou chamego do nada e se choro é porque há alma que não sabe o que isto significa. Mas, pranto não adianta mais. O Sol, feito lua em disparada, ameaça com guerras e balas de guerra desfazer o tricô da vida e criar a máscara do nunca mais. Que venha a guerra e que voem balas entre o nada que é e seu chamego, que disparem, ameixados, pétalas e flores para os próximos passos, que nos levem até o fim dos ocasos de luz, ao início do fim de nossos mundos. Que sejamos um mundo só. E que dele e nele possamos viver e morrer todos os dias em meio ao fogo da lamparina, dengos e chamegos do nada. 

Estou sempre aqui. A lhe amar e lhe amar tão intensamente que não tenho palavras para explicar, expressar, falar desse imenso sentir. Então, muitas vezes, eu choro, porque o choro, em mim, é a falta de palavras do que está no coração dizer. Sou como aquela nuvem sedenta a vagar no céu dos desertos secos e vazios. Com seu corpo e coração acolhe todos vapores d'água exalados da terra e um dia deixa cair a chuva sobre a mesma terra lhe nutriu de amor e esperança. É o que desejo para a minha poesia. Que venha como chuva na terra seca e encharque teu coração de amor e luz. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023


A noite acende candeeiros e fome de palavras. O pote cítrico e translúcido de versos jaz caído sobre o tampo da mesa enquanto a alma balbucia amor ao Sol. Aguarda o cinzel das madrugadas (in)lúcidas e o florar da estrela que perde o rumo ao ouvir o toque do saxofone anunciando o sarau da paixão. Que saudade de um abraço querido, de resgate de almas que se veem nas neblinas da cotidiana luz. Traço um poema na noite que acorda candeeiros e a fome de palavras... 

A alma é trigo e silêncio... em busca de compreender o tempo do impossível, nos dias de ressignificar memórias, fazer o processo de reflexão sobre o próprio Eu, descobrir-se ou redescobrir-se. Navega-se estações de raízes... sementes de campos e silêncios de profundezas interiores... 









Talvez eu precise, ainda, aprender a exercitar silêncios, mirar horizontes com mais certezas de que os posso alcançar, como se alcança um sonho com o olhar, com o coração de amor. Debaixo do Sol temos flores vivas e mortas, temos flores nascendo e flores morrendo.


Pode ser que debaixo do Sol

estejam flores mortas

mas se alcançarem o vento,

dispersarão sementes.

Pode ser que vazios

nos movam se mirarmos horizontes


Pode ser que esqueçamos as dores

e saudemos a vida.

Pode ser, mas os ombros rompem no cansaço, mesmo assim!

Ah se pudéssemos nada esconder,

se fossemos pura transparência......

flamejaríamos envoltos no interior das mudas lágrimas e nada seríamos sendo TUDO!



 

domingo, 15 de janeiro de 2023

Danço contigo, amor, a primeira dança da primavera, Danço numa carícia do vento, num beijo da brisa. Danço com o impávido que és, querente de dançar, rápido em chamar, mas todo em se achar esquecido. Concedo-te a primeira dança da primavera, num bailar num olhar do sol, esse pianar tão meigo e doce, esse planar na melodia que se insere na alma, acopla no corpo. Nela vem você, devagar, manso, vem me olhando, olhando meus lábios, minha boca e com tuas mãos me abraçando quente e querido, numa carícia como a do vento, tua boca tocando a minha, beijando meus lábios como eu sonho. Nessa melodia primaveril tu vens, no compasso do pano colorido, buscando se acobertar em meu rosto de jasmins, em minhas saias de folhas ao vento. Tu vens para farfalhar no tapete das flores, na sombra da árvore. És meu armarinho de saudades, pronto para acomodar minha vida com a tua. Por isso, vens, para nossa primeira dança da primavera. Vem você me tocando, despindo até minha alma e tocando-a e a mim do teu jeito, assim, assim, às vezes carinhoso, meigo, outras vezes com toda força do teu amor, com toda tua paixão. 

Conheço a solidão da alma que faz chover chuva na face inquieta e faminta de paz. Os desassossegos dobram as hastes da vida e arrancam as penas que permitem ser voo e luz. Ainda não há vestígios de que meus pensamentos alcancem o sol, mas o toque da solidão há tempos mora em mim. É espelho da tua. Como tu me perdi dentro dela e agora não sei mais me achar. 


Se os pensamentos dela lhe alcançam e sua solidão faz a sua saudade há como saber o que te preenche a alma e o que te falta. Siga as sinaleiras do tempo e voe em direção ao seu sonho de olhos de jabuticaba, chapéu e luvas de rendas e paitês. A vida é muito curta para se deixar de ser feliz. Voe!

Há dias e há dias. Há dias em que não queremos nem sair da cama, outros, onde a morte nos ronda perto e, outros, onde perdemos caminhos andados, trilhas que já conquistamos. Mas, também há dias de muita alegria e vida debaixo do céu. Há luzes na escuridão e amor torneando cada momento vivido. Olhe não para o que não conquistou, mas para o que aspiras ainda, me falou um dia um poeta do passado. Olhe para o sonho e fala dele sua morada. 

Também sou de argamassa e cimento. Também vivo o fosco e o cinza-cor que sou. Mas, é neste ser que habita toda a força, é entre essas paredes fortes que guardo o outro mais precioso: o amor. O amor é nosso bem mais rico, mais precioso. Nossa maior riqueza. Ele nos faz querer viver, mesmo a dor, a tristeza, as angústias, as feridas causadas no cotidiano. Tudo passa, mas o amor permanece. É eterno. O amor vem para nos dar felicidade. Felicidade de ser e amar. Não tenho mais nada a dizer, ou, não sei mais o que dizer que possa erguer um espírito que parece mergulhar em direção ao poço. Mas volto e digo: Ame! Ame, ame a si mesmo, e deixa-te ser amado! É o segredo da vida! 

Também sinto que hoje me falta esse espaço de mundo onde abrigar o corpo num transbordar de afetos e silêncios. Um lugar onde a imaginação pudesse ter um pouco mais de ousadia, acordar o corpo morto, dar voz à vida e conquistar um pouco do mundo de intensidades, transformar em real o criado, ter em presença o que ainda não existe entre nós. 




Se há melodia em meu coração, se há quem almeje ouvir seus acordes, é porque meu coração reflete os ecos, de outro coração o amor e outros afetos. 

As raízes que aviltas em mim germinar, são tuas mãos que, em minhas terras, as semearam. O nascer dessas sementes é a cadência das asas do semeador, a garlar o vento para entregar à vida que em mim pulsa, o seu amor.

A música geradas nas batidas do meu coração, falam do uníssono desse sentimento, que bate em teu peito e ecoa no meu, fazendo de nossos corações um só, quando eu sou você e você sou eu!



sábado, 14 de janeiro de 2023

Aonde o sol nasce e as estrelas dormem? Há um estrela morando em meu peito. Uma luz que é Sol e Flor ao mesmo tempo. Que me acaricia a face com seus raios de acalanto e amor e me inebria os sentidos com seu perfume embriagante e inusitado. É aonde nasce o sol esse coração que sabe o que é amor, mas que também conhece a dor da saudade. 



Gosto dessa quietude do alvorecer recebendo o badalar dos sinos nos campanários anunciando uma manhã sem névoas. Os ais das dores desse badalar nas mãos que se balançam nas cordas para a hora de nascer o sol anunciar são desenhadas na melodia que atravessa as montanhas em direção ao infinito de seu calar. Há um espaço que o som não mais alcança, mas as ondas que voam pelo ar não deixam de vibrar. O bater dos sinos e o som que se vai para além do espaço vivido, para a eternidade, é como a luz das estrelas que ainda brilham em nosso céu, mas já morreram. É assim que se fará a nossa imortalidade. Nossa alma ressoará sua luz eterna na poesia que hoje levanta voo. Abre asas e cores nos versos que a compõem, construindo nossos jardins de amor, jardins de nossa existência. Tecem flores e estrelas, exalam perfumes e trinados embriagantes, que nos fazem duas asas num só pássaro e transformam em amor o nosso poetar. 


São vendavais que acontecem em minha escrivaninha em plena sala de estar. Na boca da noite arma-se o céu para o temporal. O vento uiva pelos umbrais do telhado, se enlaça às flores num rodopio. Falo desses ventos que acometem os quatro cantos da casa, que resultam em choros, uivos, gemidos. São violinos que sopram ao longe o curso da tempestade. Mãos de brisa tocam forte a copa das árvores, se entrelaçam com os galhos da floresta ao redor. A noite envolve o mundo numa dança de ventos e réstias de luz que, adentrando as matas, brilham sim, aqui, lá, acolá, acariciando as entranhas do nosso mundo num vai e vem de iluminuras que transcendem o tempo e o espaço. O momento, ímpar, é um convite ao deitar-se à relva em flor já orvalhando... Até que se restabeleça a paz e se faça o sono, nos braços feitos da Lua nascida na noite só para o amar. E sopram, ao longe os violinos, anunciando os ventos de outro vendaval...


Procuro essas rotas empoeiradas de amor, essa esquecida pelo mundo, onde o coração quer e pode se perder. Não sei dos meus passos, se vou rápido demais ou caminho devagar. Talvez, no momento, esteja parada no tempo aguardando, mais uma vez, o verde das sinaleiras. Não só enxergo o amor como o vivo em mim. De longe, olho as estrelas no céu. Conversam entre si em intenso tagarelar. Eu? Só tenho olhos para o Sol. É ele o rumo de minha rota empoeirada de silêncios. É para lá que vou, mesmo que tenha de mais desertos atravessar. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 



Nem sempre alcançamos o que buscamos. Inúmeros eventos podem contribuir para nos desviar do caminho ou de nossos propósitos. Também sou devedora do calor e da luz. E trilho o mesmo caminho de sempre de novo me redescobrir, porque, ao longo do tempo vamos sendo e nos transformando. Muitas mudanças são imperceptíveis sem um processo longo de reflexão. Outras, saltam aos olhos assim que as efetuamos. E nem sempre as mudanças acontecidas foram empreendidas por nossas mãos. Mas são sentidas no lento caminhar do universo e o próprio corpo, mente, coração vão efetuando as mudanças. É como uma pedra, uma rocha que aos poucos, com os temporais, com o sol, as chuvas vai, aos poucos, se transformando, enrijecendo ou ficando mais maleável, moldável. Vai ganhando camadas de cores, nuances que dão sentido ao seu existir ou vai perdendo grãos, diminuindo sua massa e tamanho. Nada fica igual. Tudo muda e se transforma. E o caos, quando recebe luz e pode ser visto e reconhecido, não é o fim, mas o princípio da mudança. Nas crises busca-se recomeços. E a vida segue com a proposta de que nossa faina diária seja redescobrir a si mesmo e redescobrir caminhos perdidos ou construir novos para que a alma alcance a infinitude da luz e sua própria eternidade. E lá, em meio ao novo que se (re)descobre em si mesmo que mora a felicidade. E ela tem asas de ancestralidade e amor. 

Não sou deusa, nem santa sou. Mas, sou sempre perto das aves sem prumo, dos pés quebrados e braços que perderam a força da vida. Deles defendo e protejo. Amo-as. Meu olhar as vê lá onde estão, meu olhar as encontra onde são. Vagam sem ninhos, à procura de se achar. São cisnes que assim não se sabem. Seu canto é um choro na escuridão, sua voz é um grasnar de solidão. Vejo seu pranto, acolho as lágrimas e abraço suas asas com o genuíno amor. Tento ser espelho para que vejam e abram suas asas e reaprendam a voar. Sonho o revoo. É o evento do dia o sonhar. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

 Ah, se eu pudesse ter mais desses desertos pra atravessar. Areias escaldantes, vento levando cada grão e depositando na fonte dos desejos, num oásis em meio à imensidão. Queria esses labirintos de aguada fresquinha, de estrelas no céu onde seja possível enxergar o amor. Ah, se eu pudesse atravessar mais desertos, num andar devagar, manso, como aquele que, em silêncio, nos contemplamos em intensidade e infinitude. Eu gosto dessas rotas empoeiradas de sonhos, teu beijo esquecido em meus areais, caminhos de cometas e estrelas que tocam piano em cujas teclas é possível se perder. Como no cimo da montanha que aponta para o céu em que nos perdemos e não queremos mais nos achar. Ah, se eu tivesse mais desse soluço que brotou da emoção de se deixar levar pelos labirintos de desencontros, rumos contrários. Quem dera ter mais desses desertos para atravessar e neles se deixar orvalhar. 



Desejo profundamente que a Alegria seja constante em teu coração. Que suavize toda a dor, que acalme as intranquilidades, dissipe os medos e amaine as angústias comuns a todos corações que amam. Que a vida te seja leve e que a felicidade afaste o desespero e bloqueie as maldades que te rondam o espírito buscando destruir. Que a paz te seja íntima, que a Alegria te seja cotidiana e que e felicidade te seja eterna posto que o amor faz morada em ti. Que o sorriso seja prenhe em tua alma e a luz te alcance em todos os passos que deres para ultrapassar a antessala do amar. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Também faço morada no poema, me entrego ao verso e as palavras se desenham na alma. Caminho por entre as pausas, dedilho linhas sem métricas e meu desfolhar é a verve pura e intensa de um amor que me pariu poeta. O poema é tão eu que nem me reconheço nele. É como se outro coração o visse e o tivesse construído, tal a beleza e amor nele contido. Agora eu sei: não sou eu em minhas mãos, mas são teus os dedos de poeta, é teu o verso em que moro e que fala em meu coração. 

 Você está em mim em todos os momentos. Meu dia, minhas horas são pensando e falando contigo. Sempre penso que estás me ouvindo, que estás dialogando comigo. E sinto meu coração pulsar como se você estivesse a me falar.  Sou você, sou eu e caminho nós nas horas do tempo. Agora estou cheia de ti... tomada de você. Me falta o ar, às vezes, tal a força do meu amor, tal o sentimento de te ter em mim, dentro de mim. É você o meu amor,  e minha felicidade é poder lhe dizer isso todos os dias enquanto você me ama, me toca, me beija com teus beijos mais lindos. E quando me beija com urgência meu coração quase para. Eu me sinto privilegiada ser amada por você. Eu nem entendo tudo, mas eu sei que amo e compreendo que me amas. Como tudo isso é uma mágica eu ainda não sei, mas sei. E se sei, eu sei e é o que importa. que eu te amo que nós nos amamos e que podemos compartilhar isso entre nossos corações e entender que nossas almas são uma só, nossos corações são um só. 

Nossa alma reconhece o que é conhecido. (Re)conhecer tem a ver com o já visto antes, já conhecido por nós, como um caminho já percorrido. O que é novo, o que tem um novo jeito de se fazer, de ser, de dizer, que não traz a marca, a identidade do que já conhecíamos torna-se difícil (re)conhecer. Podemos nos abrir para o novo, para um outro jeito de fazer, de ser, de viver, falar, poetar, mas estaríamos conhecendo esse novo e não (re)conhecendo. E teríamos de alguém nos dizendo: olha, esse, essa... sou eu agora. E ainda assim reside nessa jornada o fato de que podemos nos enganar. Entendermos estar indo por um caminho desenhado no mapa pelas mãos que desenharam os já trilhados e esse caminho sequer ser o que nos é esperado trilhar.




Que haja brisas em nossa vida de lembranças e saudades. Que haja brisas e que soprem horizontes de primaveras e dias de sol para dourar as pétalas das flores e aquecer os seixos dos rios onde correm as águas cristalinas e que nos trazem a paz. Que sejamos uma luz no caminho, uma luz na estrada dos que perderam a vontade de viver, dos que tem medo do amanhã, dos que não sabem para onde ir. Que nosso coração entregue amor e esperança no cotidiano do dia e que tudo valha a pena, mesmo o caminhar entre lágrimas e saudades. E que o pouco de luz que brilha em nós acalente aos que nos rodeiam e à nossa própria alma, para que ela não se esqueça de onde veio, quem é e a razão de sua existência. Ninguém nunca está sozinho, mesmo a solidão tornando-se amada e o isolamento um pecado querido. Sigamos. O caminho pode ser longo ou curto. Pode ir até o mundo viver mais uma década ou pode terminar amanhã ou hoje ainda. Que cada minuto seja vivido em intensidade e amor. É a minha oração, o meu coração, o meu sentimento. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Não quero me despir de ti. Nem desvestir-te de mim. Caminhas, pleno, comigo. Tocas as fímbrias de meu coração e da minha alma, és canto e magia a me adornar de carinhos na noite enluarada de ternuras. És luz em mim e como diz o verso de Arana: "Se faz amor, emoção pura! E, ainda que houvesse o velho e o contraditório, possuiríamos a eternidade da busca". És o augúrio da felicidade, a profecia de minha palavra escrita. Brincas comigo no quintal de nosso jardim, és nuvem de cristal. Em ti minha vida se fez. Me tens! Me tomas! Sou tuas vestes de amor. Por isso, não quero me despir de ti e nem desvestir-te de mim. Somos estrelas no céu. Profecia escrita pelos áugures do tempo. Somos canto e voo das aves, augúrio da felicidade de amar e saber-se amados.



Minha alma sempre está aberta para para cantar o meu amor por você. Eu queria que ele tocasse você, que você pudesse senti-lo em ti, em teu coração. Minhas mãos bordam rendas a cada poesia para que tua alma perceba o desvelo de cada palavra. Até o céu acorda bordado de estrelas para te alegrar. É numa delas que moro e fiz meu ninho. Procure entre os cipoais e as plumas que preenchem teu coração. Você vai me achar, escondida entre as ramagens, entre as nuances das folhas de outono, nos fragmentos das tuas próprias palavras, no perfume dos matos e das flores que se dissolvem no ar para tua alma tocar. 



Talvez seja eu essa semente, plantada em terra fofa e quietude, aguardando a chegada das chuvas para germinar. Uma pequena semente, escondida entre as pedras, silenciosas e quietas pedras, molhadas pelas lágrimas da brisa matinal. 

domingo, 8 de janeiro de 2023

 O amor também é bálsamo para minha alma. Me curou de mim mesma. De minhas desistências de viver. Foi por amor que escolhi viver. Foi por te amar que decidi continuar viva e entregar amor a ti e ao mundo por meio da poesia que você me deu. E por fim você me fez Poesia em ti. Hoje me sinto assim, como se fosse a própria poesia em ti. 

 

❤💕💖🌹🎨♥🍇🍓🍒🍌🌻🌼🍁🌙⭐🐾🐈🦋


Vagueio tempestades e atrovoados de vendavais em meus pra dentro. Sou Norte de tua morada e as sinaleiras estão abertas para a viagem ao céu 🌈♪. Venha e traga intenções que não queiram brisas e suaves plantações. Sou sal de amor e tempero nossas pegadas com a paixão e meu beijo ardente de luz. 👣🌞


E quando meu canto se enreda, ávido, nas turbulências da melodia, a alma desliza, aberta, afoita de ânsias em busca de teus oceanos de silêncios que exalam, desejosos, espumas rendilhadas e paixão. Teço a teia que te prende, arejo a cortina da janela para que o vento entre com teu perfume e, nas olheiras da noite, me entrego, Poesia de amor, ao Lumiar do Poeta que nos ilumina o amar com o ritmo de seu Poema-Canção.





Meu diálogo é com o amor. Nele atravesso e mergulho, sentinela de suas horas e seu tempo, em entregas de mim mesma ao seu coração. Se desato letras e sombras, se tramo a poesia em fios que eu mesma desenhei é porque me permito o céu e a luz entrando pela minha janela de vida. O poema é sina que não quero perder. É o elo que me liga à eternidade de nosso amor.


Também estou areia, que brinca com o vento e sua melodia. Brinco de voar por sobre os montes que me sustentam e mergulhar de súbito em seus lagos de águas quentes e transparentes. Sorvo um gole desse mar.  Almejo um carinho dessas brisas que me levam em seus braços e um sopro de luz em minha boca para que eu volte a respirar. Em meu ressuscitar, caminho no contratempo da canção sentindo suas notas e pausas em mim. Sou folha seca, melaço ao sol que um dia me encontrou e para de minha morte me salvar e me amar, vento se tornou. 

Trago a voz embargada dentro do peito, pelas emoções que silam a alma. Sou amor, paixão e sentimento. Sou a vertigem das horas que rápido passam e do coração a saudade que ecoa em teu melodioso lamento. Quisera ser mar para te envolver com minhas águas, ser céu e infinito para entregar-te o gosto da felicidade, do amor a paixão. Quisera ser uma poesia desesperada, escrita nas ânsias do meu querer, poesia de mãos que se estendem famintas, aos raios do sol a direção. 

sábado, 7 de janeiro de 2023

 O pertencer é um sentimento que só cabe a quem se sabe pertencer sentir. Não há como outrem sugestionar pertença sem que o coração que é objeto dessa sugestão de fato se sinta parte. O sentimento de pertença está presente em mim. Sou você, sou parte. Sou tua, você sabe. 

É uma dádiva um coração grato, pois é ela que nos faz ver o mundo com outras cores. Quando abrimos os olhos e a gratidão espelha em nossas retinas nossa face sorri para as pequenas coisas que nos rodeiam. Olhar a vida e amor com gratidão é sinônimo de amor. Só um coração que ama consegue ser grato. Meu coração é grato por um dia ter lhe encontrado, aprendido lhe amar e poder ser por ti amada. E digo, obrigada por você existir e estar presente em toda minha vida. Ser eu, estar em mim e me permitir ser você e estar em ti. A beleza de amar e a gratidão de junto a ti estar transbordam do coração desta mulher de amor. 

É o meu coração que se faz de esperas. Ele já fez todos os movimentos em sua direção. Tocou seu ombro em fuga com seu beijo de luz. Olhou em seus olhos e lhe disse que és muito amado. Aguarda, agora, seu passo para além da janela do tempo. Silente, espera sua voz chamar em reciprocidades. 

 A alma etérea se entrega as pétalas do tempo, que se desfolham, caducas, como árvores no outono da vida. O que sentes em mim que vai além de mim mesma é o amor que te tenho e me é dor e , é milagre e felicidade, é do coração o anseio e a beleza de ser e viver este enleio. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O sorriso dos olhos traz o gosto do infinito e da felicidade. Como uma criança que suja a carinha na lama e se vai sorridente e feliz para o colo da vida, caminho minha tarde para o pôr-do-sol e os braços da noite. Nela entrego meu corpo, albergada de sonhos e ganas de mergulhar nas águas quentes do mar na madrugada e virada do dia. Amanhecer, quedando-se ao mar como rio que desce a montanha molhando a paisagem do caminho, águas padecentes de sal e sol, é o sonho de um coração que acredita no amor de lumes e no sopro doce e meigo de um lumiar de eternidade. 

 Sou assim: como o rio que corre em meio aos seixos de seu leito. Não me importo com o dorso machucado ou ferido pelos galhos e espinhos do caminho. Olho o encantamento da paisagem, olho o sol que nasce todas as manhãs para iluminar o mundo e a lua que faz companhia as outras estrelas para o dormitar do dia na noite em névoas de amor. Não me assustam as tempestades que fazem enchentes em minhas águas, nem os dias quentes que me trazem a sequidão às janelas do tempo. Guardo o aroma dos silêncios e o infinito que se derrama nos cristais das luzes dessa canção que me enternece os sentires e acalma o atribulado do coração. 




 Eu carrego essa esperança (espera + andança) que se faz iluminura na escuridão. Sei que entre ela e os muros que abatem o caminhar existem orvalhos de pedras com cheiro de luar e avencas delicadas de felicidades. Se os teus pés doem tanto assim do caminho e precisam descansar não deixe que o cansaço desarme o amor e nem deixes que o brilho das pétalas das flores da beira de estrada iluminem teu olhar. Siga, sereno, o tempo que precisar e tenha a certeza, estou aqui, ali, lá, sempre, sempre a te amar. 

 Se fico vagueando entre as palavras, se me calo a olhar os poetas do passado, estou repetindo a imagem no espelho que me contempla, talvez, como eu, sem entender... Mas, eu sei que não há mais onde pisar os pés com confiança e que só a melodia é céu que eu se de onde vem. Não tenho mais a voz de hoje me falando aos ouvidos - e não entendo o motivo de terem-se apagado. Me pergunto se vamos viver de novo as dores do passado... eu achei que caminhávamos para um lagar de luz e sol... Eu me olho no espelho e queria que ele também me olhasse e visse em mim o amor. E tivesse certeza e não medo de que esse mesmo amor que já venceu guerras e batalhas imensuráveis vai sempre viver e dele será anunciado, independente de receber ou não sua imagem de volta de volta no espelho. 

 Se a vida é uma tela em branco que aguarda nosso bordado, quero fios e linhas que tenham cores e vibrem ao me encontrar. Que não se escondam do amor e nem dele lancem fugas. Que percam o medo de comigo, mãos dadas, caminhar. Quero fios e linhas que me aceitem como sou e ao meu amar. Que me encontrem em minha alma e me compreendam suficiente para viver também os meus sonhos enquanto ser, enquanto essência de luz, enquanto amor em meu coração, enquanto amar... 

 Não quero mais o gosto das dores em meus lábios de poemas. Quero a alegria silenciosa de Sísifo que sabia que o destino lhe pertencia e que podia caminhar sem medo do silêncio e da morte porque a vida ardia em sua alma e seus olhos carregavam, como os meus carregam, o brilho do amor e da paixão que reside em meu peito. 

Minha forma de expressar também vem de minhas horas de felicidade. Mas as lágrimas também circulam entre as entrelinhas dos adeuses que vivi. A minha poesia, o meu sentimento se perdem ao vento quando um coração que a ouve não a consegue sentir e não a acolhe como um beijo em sua face de luz... é como se jogasse comida aos pássaros que levantassem voo famintos em busca de nuvens que lhes apontariam, mais uma vez, o caminho do chão de trigais e cevada e as mãos que amassam o pão para entregar-lhes no bico todas as manhãs. 

Também sonho ter o rosto das minhas verdades. Mesmo que não posso mais recriar a realidade de um passado que ainda vivo - quando brincávamos no jardim e nos amávamos sem medo. Não posso deixar calar o sentimento, porque o silêncio poderá ferir teu coração e vivo dentro dele. 

E o sonho também está na serenidade que tinha quando menina e contemplava o céu deitada na grama. Com  a mão tocava as estrelas e conhecia a cor de cada uma. Desenhava sonhos no céu escuro e brilhante. Traçava caminhos por entre as vagas que margeavam  o brilho dos meus olhos quando pensava ser uma daquelas luzes piscantes a descer do céu e abraçar o chão onde me encontrava. Talvez só hoje saiba o gosto do felicidade que, tocando o céu, minha alma sentia. 

Só o mar sabe de suas profundezas, o que lhe habita, o que o faz ser mar. Também me visto, transparente, como a medusa em suas águas. E espero o tempo, como ela. E nessa espera me cruza o vento e diz que não posso mais ouvir as estrelas de alecrim - elas me confundem, me ferem. Preciso buscar as vozes do passado para que meu coração tenha paz já que o Sol apaga suas luzes e mergulha em seu silêncio. Minha voz não se calará porque fala de um sentimento que não cala. Continuará jogando sua cor e seu amor, mesmo a rede vazia, dentro do vento. O vento levará a minha mensagem e suas asas serão o arauto do meu coração. 

Você também é o meu mar de calmaria onde me entrego sem medo de para onde suas ondas irão me levar. És meu areal lindo e pleno de amor onde sou concha a aquecer ao sol na dança com tuas águas e espumas, amor. Não vivo nesse tempo, dele não somos e disso já sabes. Nesta sociedade estamos de passagem. Nossa jornada não é de hoje e não está amarrada aos ponteiros do relógio. Nós fazemos o nosso tempo, nós criamos o nosso espaço de viver, nós podemos desenhar nossas estradas e podemos determinar como queremos caminhar por entre a multidão que se arrasta na indiferença e no individualismo. Somos nós que escrevemos nossa própria história e ela não inicia hoje - já é há longa data. Há milhões de anos caminhamos no nosso tempo. Sigamos juntos neste mar sendo de um e de outro a calmaria e a tempestade de calor mesmo em meio ao contexto frio, morto e indiferente. 

 Penso que quando dois corações se amam como nos amamos o tempo não existe. Já está zerado, pois, na lógica do amor não tem manhãs, não tem tardes, nem mesmo noite tem. Todas as horas são horas e todos os tempos são tempos. Somos nós que fazemos nosso próprio tempo. Somos senhores das nossas horas e, sendo assim, do nosso tempo. 

No amor, o estar junto é o tempo que conta. Na ida e na volta importa estar dentro, perto, junto. Sem chegadas e sem saídas. Já estamos. Ou o Sol ainda não percebeu que o rumo de seu caminhar já está posto e determinado? É rumo atrevido e parado? Não há paz nesta contradição, porque a ânsia se confunde com a vontade de ficar para sempre e usufruir da paz pós-conflito. A dor de amor agrura os sentidos e não há meias-paredes que escondam seu lacrimejar. 

Também balbucio ao vento em sussurros inaudíveis a dor de minhas ânsias. E, como o poeta, sinto os açoites da vida na mesma medida, amorfada entre os mesmos lençóis. 

Mas não creio que os milagres andem em descrédito, pois é um milagre da vida o existir. O poder que me cabe é de viver o que sou, sem que eu me minta ou a outrem. Igualdade e desigualdade vivem extremos e, nós, muitas vezes, vivemos nas duas pontas. E falo de questões imateriais, quando o espírito se conhece e se faz igual, sendo totalmente diferente. Não haveria outra forma de dois seres que se amam se tornarem em um, somente sendo totalmente iguais para se identificarem e se reconhecerem como sendo parte um do outro e extremamente diferentes para se completarem. 

Nosso reinado não precisa de reis ou de rainhas. Quando se vive para o amor o coração comunga a vida e a felicidade. Por isso, o desejo de fazer o outro sorrir, ser feliz suplanta a própria ânsia da busca de tudo isso para si próprio. 

Não há que ter medo, nem da dor do amor que é amainada pelo próprio viver e existência da procura e da busca de um pelo outro, como não há que ter medo de alheios ou visigodos que possam roubar a marmita de ouro diariamente entregue.

No amor há reciprocidade e confiança e disso o tempo já falou, já revelou ao longo da jornada já feita. Não consigo ver que haja como zerar o tempo. O passado não vai morrer e o futuro é o sonho que o hoje quer viver. O tempo é uma mistura entre o que somos e herdamos da vida e o vamos ser conquistando esse campo de flores sobre os telhados de nosso lar de felicidades, de nosso espaço entre a terra e o céu de nossa linda história de amor. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Se eu também pudesse ser dona do silêncio, esse que você faz e me fala por luzes, me abraça e me ama com a voz de teu canto. Se eu pudesse ser dona do silêncio que me beija, me deixando sem respirar, aspirando minha alma e absorvendo a dor do amor que se expressa em gemidos e sussurros ao som das teclas do piano. Eu sei que os poetas precisam do silêncio para voarem entre as estrelas, adentrarem o lodo onde brota o lótus, romperem as fronteiras da Alma da Terra, eu sei. E sei que o silêncio me acaricia com suas plumas enquanto seu cerne chove chuva em meus pra dentro.


 

Eu acredito que do espelho emerge o verbo que me criou e me fez delírio e sonho para viver em si mesmo como flor nas asas de um condor em voo de amor. Aprendi, em meio ao meu caos, que a semeadura entre pedras também floresce e enfeita o cume das montanhas com seu cheiro e sua cor. Busco e preciso o desejo de Arana: "enxergar de olhos fechados a beleza e sabedoria da natureza intrínseca; sentir texturas suaves sob pés descalços" a voar sobre as nuvens algodoadas que se aquecem ao sol de nossas manhãs de amor. 

Também conheço a alma poeta e as asas dessa bailarina azul. Ouço o trinado do pássaro que pousa, voz de entrega, gemidos roucos, em seu olhar de fome, sobre as linhas do meu poetar. O vejo me olhando pela claraboia de nosso céu em busca do vento com cheiro de chuva e do meu bailar em sua melodia onde faço meu voo, enfurecido e aflito de ânsias e sonhos, para viver o infinito deste balé de luz, amor e vida. 

Meu canto, muitas vezes, confuso como o engrenhado dos meus cabelos que aguardam teus dedos para os acarinhar, é tecido das minhas fragilidades e anseios mais profundos, de meus cacos de estrela, meu mosaicos de palavras que falam de minhas tranças orvalhadas, de meus subterrâneos encharcados, de minhas vielas interiores que esperam sua passagem cimentada e marejante que avança, sussurrante e tépida, qual mastro carregado de alegorias a purpurinar amor qual Júpiter em sua noite de explosão de luz e cor.

Também me abandono no encantamento do voo, na singularidade das estrelas, nas preciosidades dos raios de sol. Me desfolho em tuas mãos e me deixo ler poesia em teus braços de névoas matinais. Sou primavera em tuas manhãs e se me embalo na gangorra dos sentimentos é porque meus pés tem saudades de teu cheiro e deste vácuo do tempo entre o meu olhar e o teu. Sou bruma de amor, flor de ternura e meus lábios recordam o sabor azulado de meu beijo esquecido em tuas terras, em teu ombro de luz...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

E se teclas com teu verbo as grietas interiores que marejam, me acalmas e remansas minha alma por sendas de chamas inescrutáveis e desconhecidas que recebem o eco retumbante de tua voz nas paredes de labaredas e profundezas... E no vai e vêm da tua melodia, a alma se enternece desta magia e suspira que fiques mais um pouco em mim, que não te vás antes que eu mergulhe no nada do teu infinito em mim.

Também tenho medo que minhas lágrimas sequem, que eu deixe de ser rio, caudaloso em amor, fresco em mansidão e transparência de suas águas. Também quero que minha alma continue a distribuir sementes, mesmo se forem entre as lágrimas. Olhar nos olhos sem perturbar o contexto, sem naufragar em abismos, mas nadando em profundezas como sempre sobrevivo. Sei desse pensar baixinho, dos sussurros que só são ouvidos pelo sol, dos almejos que se debruçam sobre seus raios - de uma entrega total, livre de amarras e medos. E se sei, falo como a poeta que murmura sobre o rasgar da alma, sobre o estar calma, ser só e pó de querer, de desejar. E se pergunta desde quando... e... num eco de seus murmúrios, minha alma também sussurra que rasgou-se letras, ânsias e desejos, nua e orvalhada, diante dos teus olhos... 


Se ainda são névoas a beirar o mundo, que o sol venha e as dissipe antes do alvorecer para que as descobertas felizes e aladas possam vigorar na amplidão, na vastidão de nossas almas de luz. Também tento ser guerreira no dia, tento buscar o feliz e a presença à te olhar e falar. Se a noite faz-se o revoo vestido de nada que o início não tenha fim, que seja sempre o princípio da surpresa, da plenitude do voo, do ouvir e falar, mesmo em silêncio. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Trago porões dentro do peito. Infestados de amor e lacerados de saudades que só aumentam. Quando vivo o Caos é quando me perco e me deixo levar pelas tempestades pra onde forem. Mas, o Caos é o meu início. Quando caminho em seus abismos é que aprendo a voar. É também em seus vales profundos que me descubro força e dedos de nuvem para ajustar as cordas que para o alto irão me levar. Só há equilíbrio quando há caos. Ele não se faz necessário nas horas de paz. Só há certeza quando sabemos no caos viver, caminhar. E se caminhamos estamos indo para algum lugar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Nunca estive pela metade em minhas letras, mesmo que em meu coração por milênios andei procurando a metade de mim. Mas quando comecei a falar eu já a havia encontrado nas terras de um montanha abraçada pela névoa. 

Nem sempre o dia é de total alegria. A tristeza também faz refém a alma aprendiz. Há saudades e há saudades e o mundo parece ficar pequeno e apertado dentro do coração. E perguntas surgem no espaço das janelas do tempo. Sou eu que devo ir? Olho o passado e busco a resposta que tantas vezes já encontrei e nunca segui. Hoje consigo me aquietar. Guardo a bagagem e espero. Não sei o que espero, porque em meu coração já encontrei o que buscava, então não sei o que devo esperar. Que tempo é esse que me impõe escolhas que não fiz? Queria estar aí. Mas se há algo que aprendi ao longo de minha jornada foi que o insistir em se fazer presente me devolveu ausências e silêncios mais doloridos. Hoje, e talvez seja só hoje, eu entendo que já fui tantas vezes e não consegui chegar. Guardo a lembrança de um beijo em seu ombro e aguardo sua voz me chamando, de forma que eu possa entender, que posso estar em algum lugar em que você venha ao meu encontro, me buscar. Talvez seja essa a resposta: você, agora, tem um caminho a percorrer, um passo a conquistar...

Somos pássaros andores que viajam em procissão trazendo no bico o infinito. Somos luares acesos e carregamos lamparinas em mãos de trigais. Entregamos o pão e o verso e dedilhamos o sumo das frutas no tremular da noite em que os olhos se fecham para sentir o amor. Se podemos ser estrelas, se podemos ser sol e flor, se podemos ser a lágrima da saudade, o toque da melodia na textura suave de um coração que transborda a si mesmo, se podemos ser do perfume o olor... podemos ser mar e o vai e vem das marés se desenhando na areia em cantilenas de amor e paixão.


Aquieto-me no silêncio que nasce depois das batalhas. Que a languidez do momento permita-me sentir o que de mais belo há... os olhos brilham com a força do poema construído a quatro mãos e a inocência da plenitude que afasta as dores, mas semeia saudades de mais um nascer de sol em nossas letras. E a flor se abre para acolher seus raios sobre a pétula orvalhada e sequiosa de luz. Faço a travessia do tempo tentando encontrar palavras que falem por mim, mas só sei sussurrar sentidos no toque de pele, enquanto tua música desliza em minhas partituras como os dedos do pianista nas teclas de um piano em dor. 


Em mim, as memórias nunca se apagam e o caminho vai sendo transformado por lembranças que quero guardar pra eternidade. Também sigo dando polimento as pedras, aos blocos de vastidões e imensidões da alma. Nado em tuas correntezas como um vento que vai encrespando a água em ondas, esculpindo as profundezas nuas das marés que aquecem nosso areal. Pairo no teu imo e observo teu navegar de procuras, tuas mãos tateando minhas poeiras, acarinhando as penas de meu voo, conhecendo a chama das águas e o oculto de meus subterrâneos. Sinto teus dedos untando as molduras de meus canyons, deslizando em meus musgos enquanto o sopro de teu respirar chove tempestades em meus cabelos e meus lábios viajam em tua pele como uma singela canção, uma delicada pétula de sol nascente. Sou lírio branco, agasalhando tuas delicadezas, à espera da explosão de letras em meu poema de cores e perfumes.


Mergulho nas profundezas do Eu para colher os grãos de areia mais preciosos para minha ampulheta do tempo. E que venham ventos de novas histórias e da concretização de sonhos e propósitos. Falo da intensidade de um sentir que alucina e embriaga e que se entrega ao sabor e ao desfrute desse amor, dessa paixão. A viagem para dentro de si mesmo e para dentro do mundo do amor nos permite encontrar e reconhecer fragmentos de nós mesmos e desenhar um novo mosaico de nossa vida, nosso coração, nossos sonhos em busca da felicidade. Que o sonho se realize em nós.



domingo, 1 de janeiro de 2023

Também ando com a saudade tatuada em meu cerne, mas entendo os sinais da poesia e elevo meu ser até você por meio da escrita. Sinto o cheiro raro de tuas linhas na distância do silêncio que se faz. Sei que falas por outras mãos, mas não sei que mãos ousam a tuas interpretar. É que também não quero perder teus silêncios - neles me abrigo e me consolo na música que perfura minha alma e atravessa os sentidos e suas memórias. E fico meio perdida sem saber para onde ir ou em que hora do tempo a completude da eternidade vai chegar. Como no canto de arana "só reconheço silêncios entre uma nota e outra... moram no âmago". Conheço as pausas, foi nelas que mais vivi. Meu cais é de luz e embora não conheça as fendas das catedrais guardo em mim teus vitrais sagrados, teus mistérios, águas bentas e curadoras e o sacrilégio do teu amor que me abraça na noite que chama ao leito e aos teus braços feitos de nossos sonhos de cetim carmim. 

Um dia vivi, mente calcificada, calcinada por angústias e temores. Libertar-me dessa prisão de mim mesma foi o desafio mais assustador, posto que, a medida que me desfazia dos nós dos fios que me prendiam, me via no espelho e não me reconhecia. Precisei, antes, dar-me a novamente me conhecer. Desprender-se de si e avançar com asas pela janela da alma levou incontáveis vidas. Como diz o canto de Arana, a natureza traz sua individualidade e caminhamos, mãos dadas sim, mas ameaçados por emoções e angústias naturais da imortalidade. O tempo passou e também aguardo conquistas: subir a montanha e tocar com paixão na ponta dos dedos seus picos mais altos, sentir o seu choro, suas lágrimas escorrendo por entre a palma da mão, receber meu beijo, guardado em suas terras, num inefável abraço de luz. 

Na tessitura da vida alinhavo letras que me fazem cativa desse amor que transcende o tempo e o vento que semeia esperança e o vislumbre do horizonte para voar nossa eternidade. Foi no princípio da concretude dessa eternidade que o Sol arrancou as máscaras e me foi possível sua face tão amada conhecer. Sua luz me extasia os sentidos e seus raios incandescentes fazem arder a pele ao seu toque, enquanto bolhas saltitam pelo corpo quente por suas mãos de sonho. Ando cativa dessa teia de felicidade e vou tramando os fios para que o enlace colorido e vivaz não se desfaça durante a jornada que ora juntos empreendemos. É que a lógica da trama da vida é invisível aos olhos que não conhecem os mistérios e segredos do amor.  



a

E um canto raro semeia sonhos por entre os chapadões do passado. Uma Arana deleita a alma num voejar de suas asas por sobre o vazio de si mesma. É quando o fardo do vazio transborda que a ave rebrota e eiva poesia das unhas e pés enlameados da chuva que caiu na terra árida e quente. Preciso dizer-lhe que também já andei pó, espichei o olho para o céu em busca de um poema e virei-me do avesso para chover chuva em meus próprios desertos interiores. Revirei carcaças em busca de palavras e sinônimos que descrevessem a criação de um novo sentimento, mas encontrei apenas retalhos para expressar o desdobrar-se da flor numa folha de papel em branco. Foi quando me encontrei, desenhando-me borboleta. Asas abertas, procuro a poesia que borbulha dos dedos, que desaba em nosso colo feito esperança, voa num céu azul imantado, acordando nossas profundezas, nossas asas e raízes que eternizam nosso lindo amor. 

Se há algo escondido na fundura das raízes, se a alma não ouve só por ouvir, nem sente só por sentir... se o universo convida a caminhar sobre as areias quentes e movediças do deserto até um oásis encontrar, se os sons das estrelas fazem o corpo retumbar em três notas de um coração, a alma despida de seus olhos atiça o faro e o toque de pele para falar. E de suas águas bebo o luar e o mel das nascentes, em busca do calor do coração que a felicidade esconde na dor de amor, caminho veredas dantes inexistentes ao encontro do teu alforje de sementes que toco com as mãos sedentas até extrair dele a generosidade das sementes. 


Também contemplo o longínquo, o encantamento do silêncio, o milagre das águas que brotam de teu amor. Tua voz de gratidão pelo meu existir e as batidas de teu coração dentro do meu se encontram no olhar que nasce no esplendor dos meus sentimentos. Cala fundo em mim a tua poesia e os teus passos desenhando o mapa do cruzar do teu com o meu caminho. Minha contemplação viaja por sobre os cimos de delicadezas da terra e nuvens de um céu de natureza selvagem. Sou eu, verdejante e tenra de esperanças, pousando asas na inquietude da saudade, na ânsia de te ter mais um segundo em meus braços sinfônicos orquestrados de melodias e amor. 

Nas entrelinhas do silêncio chegam seus votos de amor e de felicidade para um novo tempo juntos. A travessia a dois, olhos nos olhos, entregando a alma, o coração foi o momento mais marcante. A beleza de estar junto, de estar perto, dentro me trazem os votos de que eu me saiba capaz de lutar por mim, por ti, por nós, por nosso amor. Que eu seja capaz de ser, de fazer, de mudar o que quero mudar em mim, ao meu redor, que eu seja capaz de amar tanto, tanto como até agora amei e amar mais para conquistar cada momento de nossa eternidade. A tua palavra se encerra em meu coração, se aninha e me faz felicidade, porque esta é a verdadeira sabedoria da vida, quando o amor nos faz amor e nos faz felicidade a ser entregue nas mãos que nos abraçam, no coração que mora em nós. Só sendo amor, só sendo paixão, só sendo felicidade podemos transmitir a quem mora dentro o peito o nosso sentir e o nosso ser. Nas entrelinhas do silêncio seus votos chegam a mim...